Há
notícias boas na economia, mas a incerteza permanece. O real zerou as perdas do
ano em relação ao dólar, em parte isso é resultado do forte saldo comercial
derivado da alta de produtos exportados pelo Brasil. O mais espantoso aumento é
o do minério de ferro, que é de 47% este ano no mercado chinês e só ontem teve
alta de 10%. O saldo da balança é de US$ 20 bilhões até a primeira semana de
maio, 50% a mais do que no mesmo período do ano passado. Ouvi economistas e uma
cientista política sobre esses dados e seus efeitos na economia e na política.
A conclusão é que apesar do vento a favor, o ambiente de crise permanece.
Quando há alta de commodities, as moedas dos países fornecedores, como o Brasil, se valorizam. Mas no ano passado aconteceu o oposto. O real despencou. Isso se deve à incerteza. Vacinação atrasada, os conflitos criados pelo presidente e seus ataques às medidas de proteção fortaleceram o descontrole da pandemia. A economista Silvia Matos, do Ibre/FGV, explica o que mais está alterando o fenômeno.
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O efeito das commodities nas moedas sempre existiu nos modelos, mas apesar dos
ventos externos favoráveis, questões domésticas como confusões fiscais e
políticas estão jogando contra. Medidas populistas, como a intervenção na
Petrobras, também. O câmbio estaria muito mais apreciado se não fossem nossos
problemas internos — diz Silvia.
Os
cientistas políticos Daniela Campello e Cesar Zucco, da FGV, estudaram a
relação entre o boom de commodities e o fortalecimento político dos governos. A
pergunta que fiz à Daniela, ontem, foi se esse boom poderia favorecer a
reeleição de Bolsonaro.
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Em tese, poderia favorecer, mas não acho esse o cenário mais provável. O que
conecta o boom externo ao bem-estar das pessoas — que pode aumentar o apoio ao
governo — é o câmbio. Até agora, não estava ocorrendo esse fenômeno. A subida
dos preços foi forte, mas o dólar continuava alto. Acho que precisa ser um boom
realmente duradouro — que segure até 2022 — e, ainda assim, que ele não seja
enfraquecido pelo caos da pandemia. Não acho o cenário favorável de forma
alguma para o presidente — disse Campelo.
Todos
os economistas dizem que o primeiro trimestre está com dados melhores do que o
previsto. É o que diz, por exemplo, a economista-chefe para Brasil e Argentina
da Bloomberg Economics, Adriana Dupita. Ela ressalta que principalmente o mês
de março foi melhor do que o esperado. Mas o alto grau de incerteza vem
impedindo os investidores de terem uma visão mais otimista sobre o futuro do
país:
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O auxílio emergencial chegou ao fim, e agora haverá uma reposição parcial. Na
política monetária, há aumento de juros. No câmbio, mesmo com a queda,
permanece a volatilidade. Na política fiscal, começa a pesar o calendário
eleitoral do ano que vem.
O
economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, que acompanha de
perto o agronegócio, diz que o interior está crescendo, por força da alta das
commodities, porém o cenário é de estagnação na economia.
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O efeito das commodities é aumentar a renda nos segmentos respectivos. A renda
do minério é injetada na Vale. É localizada. A do setor agrícola é bem
espalhada, e o interior, onde o setor agrícola comanda, está vivendo um boom.
Isso se traduz em construções e investimentos industriais ligados ao
agronegócio. Entretanto, o atraso da vacinação leva ao risco de uma terceira
onda, o que em alguns lugares acontecerá mesmo. O melhor cenário para este ano
é de crescimento de 3%, menos do que caiu no ano passado. E para 2022 as
projeções em média dão 2%. É muito pouco. Outra coisa que afeta o cenário é o
risco inflacionário. O custo da alimentação vai subir, uma nova rodada, por
causa do custo global de grãos e commodities. E isso é péssimo para a atividade
e para o poder de compra da população que está na pior da pior. Esse é um
cenário de estagnação — diz o economista.
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