Crescimento
mundial pode puxar a economia brasileira
A
expansão da economia americana, estimada em cerca de 7% este ano, e a da China,
com a perspectiva de um crescimento de 9%, puxam o crescimento da economia
mundial para a casa dos 6% com impacto positivo sobre os países emergentes. Na
zona do euro as expectativas são mais modestas, com a produção interna
aumentando algo na casa dos 4%. O Brasil recebe esses ventos a favor movidos
por políticas fiscal e monetária expansionistas e, se não fizer besteira, pode
até levar algumas casas a rever suas expectativas sobre o nível de atividade
doméstica. Esse é o caso do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getulio Vargas (FGV Ibre), que cogita fazer revisão dos seus prognósticos para
algo ligeiramente superior aos 3,2% estimados para a evolução do Produto
Interno Bruto (PIB) neste ano.
No
primeiro trimestre havia a previsão de uma contração da economia brasileira de
cerca de 0,5%, mas a realidade revela dados melhores e deverá registrar um
percentual levemente positivo para a atividade. O segundo trimestre ainda está
com projeções também negativas, mas as informações de abril são melhores do que
o esperado.
Tudo vai depender, porém, do ritmo da vacinação contra a covid-19 e das informações sobre as últimas restrições à mobilidade que vários Estados, sobretudo São Paulo, fizeram para conter o contágio. Segundo a coordenadora do Boletim de Macroeconomia do FGV Ibre, Silvia Matos, é preciso considerar, ainda, o risco de uma terceira onda da pandemia por causa da cepa indiana do vírus. Se isso acontecer, novas medidas de restrição à mobilidade podem ser usadas e não se deve descartar por completo o recurso ao “lockdown”.
O
crescimento, tão desejado, também comporta riscos e um dos mais temidos é o da
aceleração da inflação. A crise representou, de forma praticamente simultânea,
um choque de demanda e um choque de oferta.
“Acho
que podemos crescer bem no segundo semestre”, diz Silvia, mas não sem ter que
enfrentar vários obstáculos caso se esteja imaginando um crescimento mais
sustentável, e não somente uma recuperação cíclica. Além do risco de uma nova
onda da pandemia, a que o país fica exposto enquanto não tiver vacinado uma
parcela significativa da população, há também pressões inflacionárias, que
demandam elevação da taxa de juros, alto endividamento das famílias e forte
desemprego.
Os
países que estão crescendo bem são os que vacinaram parte relevante da sua população.
Aqui, superando a pandemia, o governo terá que enfrentar os novos velhos
problemas se o Brasil quiser aproveitar a maré de crescimento mundial. No curto
prazo os resultados estão surpreendendo positivamente. A mobilidade está
voltando sem que se tenha impacto negativo, acima do que era esperado, na
economia.
Portanto,
para poder aproveitar dessa onda de crescimento o país precisa, com urgência,
acelerar a vacinação para que o setor de serviços possa se recuperar. Uma taxa
básica de juros ao redor de 5% ao ano, provavelmente atrairia mais recursos
para a poupança financeira, sem comprometer os investimentos em infraestrutura
e no setor imobiliários que é forte gerador de empregos, e daria algum sossego
ao Banco Central. Isso, com a inflação na meta de 3,5%, representa juros reais
positivos de ao menos 1,5%.
Na
quarta-feira passada o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por um
aumento de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, que subiu para 3,5% ao ano e já
indicou que em junho deverá ter mais um aumento de igual tamanho. Assim, a taxa
básica de juros vai para 4,25% ao ano.
Há
sugestões também para o Brasil aproveitar as indústrias que estavam operando no
exterior e voltaram para o país, para se posicionar como alternativa na cadeia
global de produção.
E
por fim, mas não menos importante, é a atuação do governo federal na educação
após dois anos de grandes prejuízos para os jovens. É ensurdecedor o silêncio
do Ministério da Educação sobre como deve ser a recuperação das aulas daqui por
diante e, mais do que isso, sobre como resolver um problema estrutural da
educação no país, onde as crianças pouco aprendem e se tornam adultos
analfabetos funcionais.
A
agenda é gorda e não envolve apenas o Poder Executivo e o Congresso Nacional,
mas também os governos estaduais. Assim como a União, estes precisam melhorar a
qualidade dos serviços prestados e reduzir despesas. Nesse sentido seria muito
interessante ver a sociedade fluminense fiscalizar o que o governo do Estado
pretende fazer com os R$ 14 bilhões que lhe cabe do leilão de concessão para
exploração da água e do esgoto da Cedae, que rendeu um total de R$ 22 bilhões.
Assim como os mineiros devem ficar atentos ao que o governo de Minas Gerais
planeja fazer com parte importante que lhe cabe dos R$ 37,69 bilhões da
indenização recebida da Vale pela tragédia de Brumadinho. Só assim, com a
pronta fiscalização da sociedade, o dinheiro não se destinará a pagar aumento
de salários do funcionalismo.
O
Brasil tem perdido a oportunidade de se juntar aos países que crescem, por
fazer escolhas erradas.
Porém,
não está escrito em pedra que essa é uma regra geral e imutável.
Empenho
presidencial
É impressionante o empenho do presidente Jair Bolsonaro em criar problemas com a China na hora em que o Brasil depende do governo de Xi Jinping para obter os insumos para a produção de vacinas e, assim, conter a pandemia da covid-19. Muito ajuda quem não atrapalha!
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