sexta-feira, 7 de maio de 2021

Claudia Safatle - Nem tudo está perdido

- Valor Econômico

Crescimento mundial pode puxar a economia brasileira

A expansão da economia americana, estimada em cerca de 7% este ano, e a da China, com a perspectiva de um crescimento de 9%, puxam o crescimento da economia mundial para a casa dos 6% com impacto positivo sobre os países emergentes. Na zona do euro as expectativas são mais modestas, com a produção interna aumentando algo na casa dos 4%. O Brasil recebe esses ventos a favor movidos por políticas fiscal e monetária expansionistas e, se não fizer besteira, pode até levar algumas casas a rever suas expectativas sobre o nível de atividade doméstica. Esse é o caso do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), que cogita fazer revisão dos seus prognósticos para algo ligeiramente superior aos 3,2% estimados para a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

No primeiro trimestre havia a previsão de uma contração da economia brasileira de cerca de 0,5%, mas a realidade revela dados melhores e deverá registrar um percentual levemente positivo para a atividade. O segundo trimestre ainda está com projeções também negativas, mas as informações de abril são melhores do que o esperado.

Tudo vai depender, porém, do ritmo da vacinação contra a covid-19 e das informações sobre as últimas restrições à mobilidade que vários Estados, sobretudo São Paulo, fizeram para conter o contágio. Segundo a coordenadora do Boletim de Macroeconomia do FGV Ibre, Silvia Matos, é preciso considerar, ainda, o risco de uma terceira onda da pandemia por causa da cepa indiana do vírus. Se isso acontecer, novas medidas de restrição à mobilidade podem ser usadas e não se deve descartar por completo o recurso ao “lockdown”.

O crescimento, tão desejado, também comporta riscos e um dos mais temidos é o da aceleração da inflação. A crise representou, de forma praticamente simultânea, um choque de demanda e um choque de oferta.

“Acho que podemos crescer bem no segundo semestre”, diz Silvia, mas não sem ter que enfrentar vários obstáculos caso se esteja imaginando um crescimento mais sustentável, e não somente uma recuperação cíclica. Além do risco de uma nova onda da pandemia, a que o país fica exposto enquanto não tiver vacinado uma parcela significativa da população, há também pressões inflacionárias, que demandam elevação da taxa de juros, alto endividamento das famílias e forte desemprego.

Os países que estão crescendo bem são os que vacinaram parte relevante da sua população. Aqui, superando a pandemia, o governo terá que enfrentar os novos velhos problemas se o Brasil quiser aproveitar a maré de crescimento mundial. No curto prazo os resultados estão surpreendendo positivamente. A mobilidade está voltando sem que se tenha impacto negativo, acima do que era esperado, na economia.

Portanto, para poder aproveitar dessa onda de crescimento o país precisa, com urgência, acelerar a vacinação para que o setor de serviços possa se recuperar. Uma taxa básica de juros ao redor de 5% ao ano, provavelmente atrairia mais recursos para a poupança financeira, sem comprometer os investimentos em infraestrutura e no setor imobiliários que é forte gerador de empregos, e daria algum sossego ao Banco Central. Isso, com a inflação na meta de 3,5%, representa juros reais positivos de ao menos 1,5%.

Na quarta-feira passada o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, que subiu para 3,5% ao ano e já indicou que em junho deverá ter mais um aumento de igual tamanho. Assim, a taxa básica de juros vai para 4,25% ao ano.

Há sugestões também para o Brasil aproveitar as indústrias que estavam operando no exterior e voltaram para o país, para se posicionar como alternativa na cadeia global de produção.

E por fim, mas não menos importante, é a atuação do governo federal na educação após dois anos de grandes prejuízos para os jovens. É ensurdecedor o silêncio do Ministério da Educação sobre como deve ser a recuperação das aulas daqui por diante e, mais do que isso, sobre como resolver um problema estrutural da educação no país, onde as crianças pouco aprendem e se tornam adultos analfabetos funcionais.

A agenda é gorda e não envolve apenas o Poder Executivo e o Congresso Nacional, mas também os governos estaduais. Assim como a União, estes precisam melhorar a qualidade dos serviços prestados e reduzir despesas. Nesse sentido seria muito interessante ver a sociedade fluminense fiscalizar o que o governo do Estado pretende fazer com os R$ 14 bilhões que lhe cabe do leilão de concessão para exploração da água e do esgoto da Cedae, que rendeu um total de R$ 22 bilhões. Assim como os mineiros devem ficar atentos ao que o governo de Minas Gerais planeja fazer com parte importante que lhe cabe dos R$ 37,69 bilhões da indenização recebida da Vale pela tragédia de Brumadinho. Só assim, com a pronta fiscalização da sociedade, o dinheiro não se destinará a pagar aumento de salários do funcionalismo.

O Brasil tem perdido a oportunidade de se juntar aos países que crescem, por fazer escolhas erradas.

Porém, não está escrito em pedra que essa é uma regra geral e imutável.

Empenho presidencial

É impressionante o empenho do presidente Jair Bolsonaro em criar problemas com a China na hora em que o Brasil depende do governo de Xi Jinping para obter os insumos para a produção de vacinas e, assim, conter a pandemia da covid-19. Muito ajuda quem não atrapalha!

Nenhum comentário: