Depoimento
de Queiroga foi aflitivo e confirma: quem manda na Saúde não era e não é o
ministro
A
estrela da CPI da Covid nesta semana é a cloroquina, mas a da semana
que vem será a vacina. O governo Jair
Bolsonaro não sai bem nem numa nem na outra e todas as
perguntas giram em torno de um mesmo eixo: o grave negacionismo científico do
próprio presidente da República diante da cloroquina, da máscara, do
distanciamento, da vacina. De toda a pandemia, enfim.
A
cronologia da CPI corresponde e expõe às câmeras, para o Brasil inteiro, a
própria realidade do governo. Luiz Henrique Mandetta foi demitido do Ministério da Saúde por defender teses e protocolos científicos
e da OMS. Nelson Teich foi
colocado lá para ficar quieto, não atrapalhar, mas se rebelou quando percebeu a
roubada. E o jeito foi meter um general da ativa do Exército, Eduardo
Pazuello, para fazer o papel de bobo, obedecendo a tudo que seu
mestre mandasse.
Por trás dessa cronologia, há o que Mandetta revelou já no primeiro dia de depoimentos: quem manda na pandemia não é o Ministério da Saúde, logo, nem Mandetta, nem Teich, nem Pazuello, mas, sim, o presidente, com um gabinete das sombras, ou das trevas. Não consta que Bolsonaro seja médico, cientista ou saiba a diferença entre vírus e bactéria. E não se sabe quem são e qual é a formação e a expertise em saúde, particularmente em saúde pública, dos tais integrantes do gabinete misterioso.
É
dali, porém, que saem decisões estapafúrdias que dizem respeito à vida de todos
os brasileiros e foram rechaçadas por Mandetta e Teich, mas assumidas
alegremente por Pazuello e pela cúpula do governo. Não fosse assim, o que
levaria um outro general, este da reserva, mas de quatro-estrelas, a ter de se
vacinar escondido? E por que demorar um ano inteiro para lançar uma simples
campanha para orientar os cidadãos para o uso de máscara, álcool em gel,
distanciamento, vacina?
A
grande dúvida, porém, é quanto ao quarto ministro em plena pandemia: o que
defende, faz e pretende, e qual o grau de autonomia do médico Marcelo Queiroga
em relação ao “doutor” Bolsonaro e ao gabinete das trevas? Como ele entrou e
saiu da CPI sem citar uma única vez a palavra “cloroquina”, nem para aprovar,
nem para condenar, as duas perguntas ficaram sem resposta conclusiva.
Foi
aflitivo assistir ao depoimento. Queiroga fez um esforço gigantesco
para se equilibrar entre suas crenças e a condição de ministro de Bolsonaro,
tentando resumir tudo a um mantra: “A solução está na vacinação”. Não deixou,
porém, de admitir, transversalmente, ou nas entrelinhas, que também é a favor
das máscaras e do isolamento social e contra a cloroquina. Ou seja: não acusou
Bolsonaro, mas disse, sem dizer, que defende exatamente o oposto do presidente,
seu chefe.
Um
exemplo da saia-justa foi quando, sem ter o que responder à pergunta sobre a
orientação do Ministério da Saúde para “tratamento precoce”, que não tem
respaldo científico em lugar nenhum do mundo, ele frisou que, “na minha
gestão”, não houve orientação nem distribuição de cloroquina. Leia-se: se havia
e não há mais é porque... ele é contra.
Enquanto
a CPI expõe os absurdos de Bolsonaro, ele tenta distrair a plateia. Umas
sacadas são só de mau gosto, como rir do cabelo “black power” de um seguidor:
“Tô vendo uma barata aqui!”. Outras vão além, como chamar os contrários à
cloroquina de “canalhas” ou voltar a atacar a China gratuitamente numa hora dessas. Os
efeitos não são contra a pessoa de Jair Bolsonaro, mas contra o interesse
nacional e a vida dos brasileiros.
Por falar em vida, lá está o Brasil mais uma vez de forma desoladora na mídia internacional, com a chacina no Rio, onde um tiroteio entre polícia e bandidos deixou 25 mortos. É essa a imagem do “novo Brasil”, esse Brasil do gabinete das trevas.
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