sexta-feira, 7 de maio de 2021

Cristian Klein - Ida de Paes para o PSD põe aliança em dúvida

- Valor Econômico

Prefeito do Rio articula frente com legendas de esquerda mas filiação ao camaleônico partido de Kassab traz incerteza ao projeto, que tem Lula entre os maiores interessados

A saída de Eduardo Paes do DEM para o PSD levantou dúvidas sobre uma aliança para 2022 entre partidos de esquerda e o grupo liderado pelo prefeito do Rio e pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A união é incentivada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Maia se encontrou anteontem.

As negociações para a montagem de uma frente ampla, de perfil antibolsonarista, tem tido Paes como um dos protagonistas, mas o movimento de migração para o PSD - atualmente um partido com mais ambições regionais do que o MDB e o PSDB no Rio, que também estiveram no radar para abrigar o grupo - gerou apreensão sobre a chance de o bloco se formar já no primeiro turno.

“Não acho que está nada garantido, essa aliança é um projeto, que vem sendo costurado. Mas não tem noivado, que dirá casamento”, afirma o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que participa das articulações. O pedetista tem como pré-candidato ao governo do Estado o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) mas defende também o nome do deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ). Paes, no entanto, tem como carta na manga o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que também deve acompanhá-lo no PSD.

Com a filiação de Paes, o PSD avança casas em três dos principais colégios eleitorais brasileiros: tem pré-candidatos a governador em Minas Gerais, o prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, e no Paraná, onde Ratinho Junior. buscará a reeleição. No Rio, dado o peso eleitoral do prefeito da capital, as decisões de Paes são consideradas chaves para os desdobramentos da disputa a governador. Ao retomar o cargo que já havia exercido por dois mandatos, Paes prometeu, que não abandonará o posto para concorrer ao Palácio Guanabara. Mas há quem considere que nem isso está totalmente descartado. “Pelas pesquisas, ele é o mais forte. Para nós, apoiá-lo é tranquilíssimo”, afirma o líder do PT no Estado Washington Quaquá.

Para os petistas, o mais importante é atrair o grupo de Paes para uma aliança, de preferência no primeiro turno, que dê musculatura à campanha de Lula no Estado, ainda que o nome escolhido seja o de Felipe Santa Cruz, e não o de Freixo. Paes, contudo, já declarou ter simpatia pela candidatura do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), como terceira via na corrida presidencial.

Além disso, a interlocutores o prefeito teria dito que haveria resistência da base de candidatos a deputado estadual e federal de seu grupo em apoiar Lula, já na largada. Quaquá minimiza: “Eles já fizeram campanha até para a Dilma... Só o Rodrigo [Maia] não fez”, diz. O ex-presidente da Câmara tem se aproximado do petismo.

Na quarta-feira, Lula se encontrou com Maia e com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab - com quem Paes acertou a filiação - na série de conversas que o ex-presidente têm travado, num hotel em Brasília, para ampliar o arco de alianças de sua candidatura ao Planalto no ano que vem. Seu pedido foi no sentido de haver uma união entre a esquerda e a centro direita no Estado, representada por Paes e Maia.

Quaquá afirma que esses encontros de Lula - que também se reuniu com Freixo e com o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) - ocorreram a pedido do PT do Rio e demonstram que a ida de Paes para o PSD não atrapalha a aliança. “Até facilita, pela interlocução fácil que o PSD tem com a gente. Lula sempre teve boa relação e bom diálogo com o Kassab”, afirma, lembrando que o presidente do partido foi ministro das Cidades no governo Dilma.

Questionado sobre que rumo vai tomar nas eleições a governador e presidencial, o vereador e ex-prefeito Cesar Maia (DEM), pai de Rodrigo, disse que prefere esperar um pouco mais para se pronunciar, depois do fim de semana, quando haverá uma reunião de líderes do grupo político. Para Quaquá, a aliança de Paes com partidos de esquerda pode ser vantajosa a ele porque firmaria um compromisso de apoio à reeleição do prefeito em 2024.

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