- O Globo
Bolsonaro desafia CPI e comete crimes ao
vivo na TV
Jair Bolsonaro adotou uma estratégia ousada
para confrontar as revelações da CPI da Covid. Dispensou o gabinete das trevas
e passou a cometer crimes à luz do dia, com transmissão ao vivo na TV.
Ontem o presidente usou uma solenidade
sobre turismo para sabotar medidas de proteção e humilhar o ministro da Saúde.
“Acabei de conversar com um tal de Queiroga, não sei se vocês sabem quem é”,
perguntou, com um sorriso irônico.
Em seguida, ele disse que mandou o ministro
liberar do uso da máscara quem já se vacinou ou já se infectou com o
coronavírus. A ordem vai na contramão das recomendações médicas e do discurso
do “tal de Queiroga”.
Na terça, o ministro disse à CPI que sua
primeira atitude foi exigir o uso da máscara na sede da pasta. “Hoje nós temos
um Zé Gotinha de máscara e uma família inteira de Zé Gotinhas de máscara”,
acrescentou.
A fala de Bolsonaro aumenta a desmoralização do ministro, que já rastejava para se manter no cargo. Mas o ataque ao uso da máscara não foi o único crime de ontem. O capitão também escancarou seu gabinete paralelo e insistiu na falsa tese da supernotificação de mortes por Covid-19.
O presidente se gabou de ouvir palpiteiros
sem formação médica antes de tomar decisões sobre a pandemia. Chamou de “mente
privilegiada” o olavista Arthur Weintraub, apontado como o coordenador do
conselho de negacionistas.
Ele também repetiu a lorota fabricada para
lançar dúvidas sobre os números da pandemia. Na quarta-feira, o Tribunal de
Contas da União afastou o auditor que tentou dar ares oficiais à fraude. Num
passe de mágica, ele riscou da estatística 115 mil brasileiros mortos pelo
vírus.
Bolsonaro tem um truque conhecido: quando
está sob pressão, diz qualquer absurdo para desviar o foco do noticiário.
Entretanto os disparates de ontem parecem ser mais que uma nova cortina de
fumaça.
Ao usar o púlpito presidencial para atentar
contra a saúde pública, o capitão busca normalizar as ilegalidades apuradas
pela CPI. Se ele comete crimes diante das câmeras, não haveria motivo para
investigar os subterrâneos do governo. Cabe aos senadores não morder mais essa
isca.
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