- O Estado de S. Paulo
Marcelo Queiroga tem a hombridade de
Mandetta e Teich ou a subserviência de Pazuello?
O governo opera com gabinetes paralelos,
acima dos ministérios e com capacidade de fazer a cabeça de Bolsonaro
Não foi por acaso que o auditor Alexandre
Figueiredo Costa e Silva Marques plantou um estudo falso no site do Tribunal de Contas da União (TCU), sorrateiramente, num domingo à
noite, e já na segunda-feira de manhã o presidente Jair Bolsonaro fazia uso
político, e de certa forma imoral, para alimentar sua militância. Foi uma
operação casada, deliberada, com inspiração no Planalto.
É chocante, mas não novidade, já que o presidente é investigado pelo Supremo por ingerência política na Polícia Federal e já foi flagrado manipulando Coaf, Receita, PGR, AGU, Abin, Forças Armadas... E não foi em favor de projetos do governo, mas por interesses dele próprio, dos filhos e de aliados, como Centrão e igrejas evangélicas.
O tal auditor é filho de um coronel da reserva que cursou a Academia Militar com Bolsonaro e é um dos milhares de militares com uma vaga bacana no governo do capitão insubordinado. Ao publicar a fake news no site do TCU, à revelia da direção do órgão, ele exercitou o “é dando que se recebe”.
A presidente e o corregedor do TCU, Ana
Arraes e Bruno Dantas, afastaram
o servidor e abriram inquérito interno, mas o estrago está feito, o
objetivo de Bolsonaro foi atingido: ele não vai parar de repetir que – como
alardeava o falso texto – 50% dos óbitos por Covid não foram por Covid. É a
nova fake news preventiva dele para
sua tropa. Afinal, serão 500 mil mortos já, já.
Epidemiologistas, infectologistas e
entidades internacionais acham mais provável que o problema seja o contrário:
subnotificação, não supernotificação. Com os números fora da curva de mortes
por Síndrome Aguda Respiratória, a dedução é que muitas teriam sido, na
verdade, pelo coronavírus. Mas os bolsonaristas não estão nem aí para a
realidade, só vale a verdade paralela do “mito”.
Apesar disso, a CPI da Covid avança na direção
dos motivos e dos culpados por essas 500 mil mortes, muitas evitáveis pelas
medidas mundialmente reconhecidas: isolamento social, máscara e vacina. Vai-se
confirmando o quanto Bolsonaro guerreou contra todas as três. Ontem
mesmo, anunciou o fim da máscara para vacinados,
só faltou decretar: quem não usa é macho, quem não usa é marica. Um escândalo,
uma provocação. E o ministro da Saúde, “o tal do Queiroga”, tem a hombridade de
Mandetta e Teich, ou a subserviência de Pazuello?
Os brasileiros colhem o que Bolsonaro
plantou: a chegada tardia da Pfizer, a demora dos insumos da Coronavac e da
Oxford-Astrazeneca, a desvantagem no consórcio Covax Facility. O Brasil, aliás,
está fora das 500 milhões de doses de Joe Biden. Que
tal? O coronel Élcio
Franco alegou que o governo temia um “cemitério de vacinas”. Pois conseguiu
um imenso cemitério de gente. Bolsonaro, porém, segue firme com seu “gabinete
das trevas”, sem nenhum epidemiologista ou infectologista, que despreza a OMS,
a FDA, todas as agências relevantes do mundo e até a nossa Anvisa.
Assim como no caso do TCU, é chocante, mas
não novidade. O governo opera com gabinetes paralelos, acima dos ministérios e
com capacidade de fazer a cabeça do presidente – e o serviço sujo. Como o
“gabinete das trevas” para a pandemia, há o “gabinete do ódio” para disseminar
fake news a favor de Bolsonaro e contra os seus adversários ou críticos. E a
revelação de disparos do Planalto e da casa do presidente no Rio de
Janeiro...
Esse governo paralelo é de quem diz o que Bolsonaro quer ouvir e não dá bola para ciência, medicina, lei, ética. Ele despreza tudo isso e já até tentou dizimar os conselhos de todas as áreas, sem sucesso. E quem esqueceu do veto à pesquisadora Ilona Szabó numa mera suplência de um conselho de segurança pública? Pois é. É como o presidente trata segurança e saúde. Logo, a vida e a morte.
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