segunda-feira, 12 de julho de 2021

Mirtes Cordeiro* - O “brado” do medo e da covardia

Falou & Disse

Que chegue logo o amanhecer!

Numa atitude de desespero mais nefasta do que outras já praticadas, o presidente bradou: “Caguei”.

O dicionário da língua portuguesa é vasto quando se refere ao vocábulo “Caguei”, arremessado pelo presidente da República contra a CPI da Covid, instrumento do Congresso Nacional encarregado de investigar a responsabilidade pelas irregularidades cometidas durante a pandemia, culminando até agora com mais de 530 mil mortos.

O vocábulo tem vários significados, mas prefiro citar os mais sugestivos para a ocasião: 1 – sujar-se com as próprias fezes e, 2 – ter medo. Um está relacionado ao outro, quando o governo nada tem a expor sobre as promessas mirabolantes que apresentou em campanha eleitoral e agora se dá conta que o mar não está para peixe, ou seja, a situação pela qual passa o país já não permite que o lixo seja jogado para debaixo do tapete e que as tentativas de manipulação das instituições democráticas prevaleçam.

É o que aparece na mídia com os trabalhos da Comissão Paramentar de Inquérito, evidenciando que a rede de pescaria movida pela corrupção foi jogada no Ministério da Saúde. É também o que anunciam os resultados das pesquisas realizadas a cada semana, com a manifestação da opinião pública sobre os transtornos provocados pelo governo.

Na verdade, o presidente bradou contra o povo brasileiro, contra os mortos e suas famílias, contra os desempregados, contra os que estão vivendo na pobreza, aguardando a ação da solidariedade, contra nós todos que nos sentimos cansados de tanta leviandade.

Com a transmissão da CPI pela televisão e pelas redes sociais, podemos assistir ao desenrolar dos emaranhados de irregularidades governamentais que interferem diretamente na vida do povo, de forma negativa. Também aos representantes do governo acompanhados por seus advogados, envoltos em estratégias traçadas pelo palácio do planalto, desenrolando os rosários de mentiras que tentam encobrir as razões pelas quais já morreram mais de 530 mil brasileiros com Covid. Tudo tornando mais claro que não se fazia necessário o sofrimento das famílias, não fora a irresponsabilidade e a impregnação dos “ratos” no Ministério da Saúde.

As pesquisas divulgadas pela imprensa indicam que neste momento, a aprovação do governo é de apenas 23%, enquanto a reprovação sobe para 50%.  Quanto à forma de governar, dessa vez 30% responderam que aprovam e 66% que desaprovam, enquanto 68% já não confiam no presidente.

O presidente é mal avaliado pelos mais pobres, os que ganham até dois salários mínimos e compõem 57% da população. O presidente viu sua reprovação acelerar de 45% para 54%. Ele também é mal avaliado pelas mulheres (56%), pelos jovens de 16 a 24 anos (56%), por pessoas com ensino superior (58%) e pelos mais ricos (58%), embora haja um recuo de seis pontos entre quem ganha de 5 a 10 salários mínimos e cinco, entre os que ganham mais de 10 salários. (Data Folha)

No Nordeste, região mais carente e que concentra 26% da população, a reprovação vem no passo acelerado, passando de 51% para 60% na avaliação ruim ou péssima.

Já não podemos mais fechar os olhos e ouvidos e fazer de conta que não entendemos o que acontece ao nosso redor.

Ao longo desses dois anos e meio somos um povo ameaçado por chantagens, rupturas, golpes, num claro desprezo à democracia.

O último “brado”, no entanto, foi um grito de pavor e covardia, de quem clama porque sabe que a verdade não o libertará. Mostra um governante fraco, medroso, perdido entre suas loucuras e entre as barras das pernas das calças das forças armadas.

O medo de ver explicitado o atraso e o despropósito do seu governo pela opinião pública, e o sentimento de ver que se evapora o desejo de se reeleger em 2022, faz acrescer no governante o desprezo pelo povo. Também pelo Congresso, pela Justiça e contra a realização das eleições.

Caminha em busca de um golpe, qualquer um que lhe facilite seus desejos ilusórios.

Mais de cem processos de impeachment estão trancafiados na gaveta do presidente da Câmara. A eles se somou mais um que foi apresentado essa semana por vários movimentos organizados da sociedade civil.

As pesquisas revelam também que 54% dos entrevistados querem o impeachment.

Parece ser o alvorecer de uma noite escura.

Que chegue logo o amanhecer!

*Mirtes Cordeiro é pedagoga. 

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