Folha de S. Paulo
Aproximação com ex-opositores vira arma em
ambiente de radicalização promovido por Bolsonaro
A derrota em 2018 e a radicalização de Jair
Bolsonaro provocaram um ajuste na filosofia de alianças do PT. Embora o próprio
ex-presidente Lula rejeite abrir mão de bandeiras tradicionais, como a
regulação da mídia, alguns dirigentes insistem que uma aproximação
com grupos fora da esquerda será determinante para vencer a eleição e até para
governar.
Parte do movimento ocorre às claras, com divulgação oficial, como nos recentes encontros de Lula com os tucanos FHC e Tasso Jereissati. Para os petistas, esses gestos são um passo para reduzir a rejeição do que chamam de "elites" à candidatura do ex-presidente, abrindo a porta para atrair uma direita não bolsonarista.
A questão é matemática. "Para ganhar
uma eleição, precisamos de mais do que os votos da esquerda e da
centro-esquerda", disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, há alguns
meses. Embora Lula tenha disparado nas pesquisas e não veja um
candidato de terceira via no páreo, a reativação de um antipetismo
ainda pode dificultar sua vitória em 2022.
Uma aliança com setores da direita no
primeiro turno é mais do que improvável, mas integrantes da legenda gostariam
de costurar algo parecido com um pacto de não agressão. Os dois lados seriam
oposição a Bolsonaro, mas evitariam ataques mútuos para não aumentar a rejeição
a seus próprios candidatos.
Uma ala mais pragmática do PT entende que
atravessar a fronteira da esquerda é importante até para um eventual novo
governo Lula. “Não adianta ganhar a eleição como o Bolsonaro, apostando na
polarização, porque ela costuma permanecer no pós-eleição”, disse à
coluna o governador da Bahia, Rui Costa. “É difícil governar se você não tiver
minimamente uma aproximação.”
O governador fala em buscar lideranças partidárias que já fizeram oposição ao PT, empresários e setores do agronegócio. "É fundamental, não somente como tática eleitoral, mas uma concertação com a sociedade", diz. "Para ter um país viável, precisamos buscar caminhos mais consensuais e menos polêmicos."
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