O Globo
Jair Bolsonaro tem um dom inegável: produz
slogans contra seu próprio governo melhor que qualquer político da oposição. Na
sexta-feira, o presidente defendeu que os brasileiros se armem com fuzis.
“Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo
armado jamais será escravizado”, disse. “Eu sei que custa caro. Tem um idiota:
‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o
saco de quem quer comprar”, acrescentou.
O capitão estava no curralzinho do
Alvorada. Em 25 minutos de monólogo, chamou um adversário de “gordo”, outro de
“calcinha apertada”, o terceiro de “canalha” e o quarto de “bandido”. A cada
insulto, colheu aplausos e gritos de “Mito”. Sem máscara, ele voltou a
desdenhar a pandemia, que já matou 578 mil brasileiros. “Lamento. Acontece. A
vida é essa”, comentou.
Bolsonaro deixará um país com mais fuzis e menos feijão. Em 2020, praticamente dobrou o número de armas registradas na Polícia Federal. Foram 186 mil, um aumento de 97,1% em relação ao ano anterior. O governo também facilitou o acesso a armas de alto poder ofensivo. Caso dos fuzis semiautomáticos, cujo uso era restrito às forças de segurança.
Enquanto os bolsonaristas se municiavam, a
fome disparou. O número de brasileiros em situação de insegurança alimentar
grave saltou de 10,3 milhões em 2018 para 19,1 milhões em 2020. A alta da
inflação ainda tende a agravar esse drama.
Não é preciso ser um idiota, como disse o
presidente, para notar que os itens da cesta básica ficaram muito mais caros.
Nos últimos 12 meses, o preço do feijão fradinho subiu 42,4%. O do arroz,
39,7%.
Em Cuiabá, capital do agronegócio, a
imprensa mostrou famílias em fila para receber ossos com retalhos de carne. No
curralzinho, Bolsonaro disse que só venezuelanos se alimentam de “resto de
comida”.
Depois de ironizar a dificuldade dos pobres
para comprar feijão, o presidente deixou claro que não perde o sono com o
assunto. “Político preocupado com a vida do pobre tá de sacanagem. Tá
preocupado é com o voto dele”, debochou.
Landim em campanha
O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim,
segue firme no projeto de transformar o clube num palanque para bolsonaristas.
Nos últimos dias, abriu a Gávea para mais dois ministros: Ciro Nogueira
(são-paulino) e Flávia Arruda (botafoguense).
Paes não entendeu
Eduardo Paes se disse “muito impressionado”
com as críticas à tentativa de vender o Palácio Capanema num “feirão de
imóveis”.
É muito impressionante que o prefeito não
entenda a reação da cidade ao plano de rifar o edifício na xepa do governo
Bolsonaro.
Paes se referiu ao palácio, uma joia da
arquitetura moderna, como “um prédio estatal” que “as pessoas defendem sem
nunca ter frequentado”.
A arquiteta Maria Elisa Costa,
ex-presidente do Iphan, já resumiu esse tipo de manifestação em três palavras:
“atestado de ignorância”.
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