O Globo
A inflação beira os dois dígitos, o
desemprego e o desalento deixam de fora do mercado de trabalho 20 milhões de
brasileiros, a miséria está aumentando, a educação foi entregue a três
ministros sem os atributos mínimos para estar no cargo, a Saúde elevou o número
de mortes na pandemia pela mistura perigosa de negacionismo e picaretagem, a
crise hídrica se agravou por falta de planejamento e o preço da energia está
explodindo. O presidente briga, ofende, ameaça, exatamente por isso. Tenta
esconder o desempenho desastroso do seu governo.
Se fosse só incompetente, o governo
Bolsonaro já seria um enorme problema, mas ele ainda provoca crises e quer
tocar o terror, como o estímulo a que pessoas tenham fuzil. É importante
entender que há uma conexão entre uma coisa e outra. Seu governo vai mal em
inúmeras áreas, o país perdeu prestígio internacional, desperdiçou oportunidades,
aumentou o desmatamento, aprofundou o fosso social, deixará um terrível legado.
O presidente atormenta o país para que a discussão seja sobre os seus absurdos
e não um debate de mérito sobre o seu governo.
Um erro primário do Ministério da Economia tem sido a incapacidade de ver as tendências. O ministro subestima a inflação, e ela está num patamar perigoso. Desde o começo da pandemia, o Ministério errou nas previsões. Guedes achava que o Brasil seria pouco atingido e depois apostou que a pandemia terminaria no fim do ano passado. Com erros grosseiros de avaliação o governo agiu atrasado e elevou o custo da crise. Na economia, é fundamental fazer previsões, do contrário, o gestor sempre achará que está sendo bombardeado por meteoros.
Guedes passou a ser o Bolsonaro da
economia. Uma autoridade que faz declarações preconceituosas, polêmicas e
falsas. Discute-se a última de Paulo Guedes da mesma forma que se debate a
última de Bolsonaro. De substância, o que há é uma sucessão de fracassos. O
projeto liberal nunca existiu. O improviso é a marca da sua gestão. Agora,
Guedes está comemorando uma suposta melhora fiscal, quando a verdade é que está
surfando na inflação, que produziu efeitos estatísticos em indicadores como
dívida/PIB.
O Ministério da Economia é péssimo
formulador. A proposta da reforma do Imposto de Renda tinha uma quantidade de
erros tão chocante que nem ele, Paulo Guedes, foi capaz de defender o projeto
que entregou. A solução encontrada para os precatórios foi uma clara tentativa
de burlar as regras fiscais do país.
Na pandemia, os problemas da educação
ficaram agudos. Os três ministros do governo Bolsonaro foram desastrosos. Eles
mataram o Ministério do ponto de vista administrativo e atacaram avanços
educacionais com decisões e falas cheias de preconceito.
O tamanho do desastre na energia se vê no
risco do apagão. Faltou o mais básico planejamento, a mais elementar capacidade
de ação. O ministro Bento Albuquerque subestimou e negou a crise hídrica que
está tendo enorme impacto na inflação e coloca o país sob o risco extremo de
colapso de abastecimento.
A área ambiental é uma terra arrasada.
Literalmente. O desmatamento cresceu. Biomas estão pegando fogo. O governo saiu
do debate global. O Brasil é uma potência ambiental, mas, no melhor momento de
aproveitar esse patrimônio natural, o país é neutralizado pela incompetência do
governo.
O presidente é incompetente para gerir a
coalizão política. Preferiu comprar o centrão com cargos e fatias do orçamento
distribuídas sem transparência. Projeto do governo que entra no Congresso vira
pasto dos lobbies. Um exemplo é o da privatização da Eletrobras. Foi uma falha
coletiva. Erraram os ministérios da Economia, da Energia, e os da articulação
política.
A CPI tem mostrado as tramoias que
ocorreram no Ministério da Saúde. O governo sabotou medidas sanitárias,
destratou fornecedores sérios de vacinas, e em negócios obscuros atraiu todo o
tipo de estelionatário. Enquanto isso, os brasileiros morreram aos milhares.
Ainda morrem. O que se vê na saúde é crime de epidemia com o agravante da
corrupção.
O espaço é curto para a lista dos fracassos
deste governo. Por ser muito incompetente, o presidente Bolsonaro agride o
país, as instituições, os valores da civilização. Com o surreal ele tenta
esconder o real de um governo absolutamente incapaz.
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