O Estado de S. Paulo
Vitória ou morte! O grito de Bolsonaro é para jogar o País numa guerra inútil e insana
O presidente Jair Bolsonaro quer botar o
povo na rua no Sete de Setembro com a fake news de que é “impedido de governar”
pelo Supremo e o Congresso, materializando seu sonho infantil e doentio de
estar em guerra: “Tenho três alternativas: estar preso, ser morto ou a
vitória”. Ninguém ameaça matar Bolsonaro, ele é que tem obsessão em fuzis e sua
tropa é que ataca os outros. Logo, o presidente precisa, urgentemente, de um
médico.
Bem, é verdade que ele não governa, mas o
STF, a Câmara e o Senado não têm nada a ver com isso. O problema é dele, que
não tem talento, vontade, experiência e o mínimo de bagagem e equilíbrio para
administrar o País. Só sabe fazer campanha e enganar os bobos.
Bolsonaro está sendo impedido de fazer o
quê? Se o Congresso atrapalhou algo, foi a sua sanha por mais fuzil e menos
feijão e ele teve de trocar projetos de lei armamentistas por decretos, que têm
mais autonomia em relação ao Legislativo. E, se o Supremo impediu algo, foi
quando Bolsonaro quis transformar igrejas, academias e cabeleireiros em
“serviços essenciais”, com objetivo claro de matar o isolamento social – o que
pode matar pessoas.
Deve-se ao STF, aliás, a exigência de um Plano Nacional de Imunização contra a covid, quando o governo guerreava contra Coronavac, Pfizer e o consórcio da OMS, apostando que a vacina seria a imunidade de rebanho (Bolsonaro acha até hoje).
Assim, o presidente empurra as culpas do
governo para o STF. Exemplo: os R$ 16 bilhões que a União tem de pagar em 2022
aos Estados pelo Fundef (o fundo do ensino fundamental e do magistério). A AGU
levou três vezes ao ministro Paulo Guedes a sugestão de um acordo com deságio
de 40%, mas não vingou. Favoreceria a Bahia, governada pelo PT... Um encontro
de contas, descontando das dívidas dos Estados com a União, ou um embargo de
declaração, empurrando o desembolso para 2023, nem ocorreram ao governo.
Pela Lei de Responsabilidade Fiscal, ele é
obrigado a monitorar todos os riscos fiscais, como é o caso, mas não o fez. Com
o leite derramado, Guedes ligou para ministros do STF dizendose perplexo.
Perguntei sobre isso ao ministro Gilmar Mendes e ele: “O ministro ficou
surpreso? Pois a minha surpresa está na surpresa do ministro”.
Essas coisas acontecem porque o governo é
disfuncional e os órgãos de informação não informam, fazem intriga, como dizer
ao presidente que o STF mandaria prender o filho 02, vereador Carlos Bolsonaro.
Querosene na fogueira contra o ministro Alexandre de Moraes. Quem ganha o quê
com isso?
Em vez de informar sobre crise hídrica e de
energia, fome, famílias na rua, ameaças ao Supremo, perspectivas da economia e
da pandemia..., os órgãos de inteligência estão no mundo da lua, depois de o
presidente jogar no lixo, por exemplo, os estudos da Abin e do Exército
defendendo isolamento social. Ficou claro que prefere curandeiros, palpiteiros
e fofocas.
O governo não tem presidente, estratégia,
coordenação e preocupação com o País. O foco é a reeleição e bajular Bolsonaro.
Se algo funciona, é o marketing e o gabinete paralelo para vender as versões
que interessam a ele, o negacionismo e as fake news. Milhões caem feito
patinhos e viram feras contra os críticos e a realidade.
O pretexto para falar de fuzis, prisão e
morte é a guerra ao comunismo. Que comunismo? É só a mistificação contra quem
defende Amazônia, educação pública, nossa música, nosso cinema, nosso teatro,
os povos originários, a boa diplomacia, a saúde e a vida. Como o País é livre,
cada um escolhe seu rumo: a favor da vida, da ciência, dos direitos, dos
valores e das riquezas nacionais ou contra as instituições, as eleições, a
democracia e a Amazônia. A maioria defende feijão. A minoria histérica, fuzil.
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