O Estado de S. Paulo
É nessa ditadura que o PT e a esquerda
desnorteada procuram se espelhar?
Cuba é uma amostra da desordem intelectual
reinante na esquerda brasileira, em particular no PT, considerando que esse
partido se coloca como alternativa democrática de poder. Desordem tanto mais
preocupante porque ela expõe a natureza autoritária do partido e de seu líder,
ambos não hesitando em defender e em elogiar um regime político carcomido,
criador de miséria, de violação dos direitos humanos, incapaz de produzir
vacinas contra a covid-19 para a população que diz encarnar. Regime
policialesco que controla no detalhe a vida de seus cidadãos, súditos da
ditadura comunista. É esse exemplo de democracia que Lula da Silva e o PT
pretendem apresentar nas próximas eleições?
O ex-presidente chegou mesmo ao ápice do
hilário ao declarar que, não fosse o embargo americano, Cuba seria a Holanda.
Talvez não saiba que na Holanda vigora um regime capitalista, defensor da
propriedade privada no campo e na cidade, fruto da tolerância religiosa e de um
passado de importante país comercial, que até hoje permanece. Boa parte das
exportações brasileiras do agronegócio entra na Europa através de seus portos.
Tampouco deve ele saber que se trata de uma monarquia constitucional,
assegurando aos seus cidadãos amplo direito de expressão, comunicação,
circulação e participação política. É isso que Lula está querendo para Cuba?
Pretende ele converter o regime comunista para o capitalismo e a democracia?
Cuba sofre o embargo americano. Diga-se de passagem que é uma medida burra, pois o próprio comércio seria um elemento de dinamização capitalista de sua economia, além de oferecer uma narrativa “anti-imperialista” para o Partido Comunista e para a esquerda mundial, que pensa representar alguma coisa. Dito isto, os americanos não cercaram a ilha com sua frota nem impediram o seu livre-comércio com outros países do mundo. O regime cubano, frise-se, pode comercializar com qualquer país do planeta, salvo os Estados Unidos. Poderia ter um profícuo intercâmbio comercial e tecnológico com a China (a exemplo do Brasil), com a Rússia, com a União Europeia, e assim por diante. Se não o faz é porque é ineficiente economicamente, incompetente no trato diplomático e fechado em si mesmo. Eis as condições de manutenção da ditadura comunista. Quanto menor abertura, melhor para ela.
Aliás, à luz da ideologia comunista, não dá
para entender por que a esquerda reclama tanto dos Estados Unidos. Não é um
postulado dessa doutrina que o socialismo é superior ao capitalismo? Ora, se o
socialismo goza de tal superioridade, não poderia ele precisar de algo inferior
e historicamente ultrapassado. Seria uma posição anacrônica reivindicar a
liberdade de comércio com a maior potência capitalista do mundo. Deveria, ao
contrário, apresentar todos os seus feitos na criação de um novo homem.
Também deveria poder explicar por que
tantos cubanos procuraram e procuram escapar desse “paraíso” socialista em
busca de uma vida melhor no capitalismo. E o fizeram, no passado, em
embarcações improvisadas, com risco da própria vida. Melhor a ameaça da morte
do que a felicidade comunista!
A perpetuação do regime castrista pelas
últimas décadas, além do férreo controle policial da população, acompanhada de
uma narrativa comunista avessa a qualquer crítica, deve-se, primeiro, ao apoio
da ex-União Soviética e, depois, ao petróleo do regime chavista, da Venezuela.
Os comunistas soviéticos armaram os cubanos, deram alimentos e outros produtos,
seguindo o seu próprio projeto ideológico e geopolítico de confrontação com os
Estados Unidos. Os chavistas, por sua vez, forneceram o petróleo de que o país
tanto necessita, até mesmo em quantidades superiores às suas necessidades
básicas. Instaurou-se o socialismo da mesada. Na falta desta, está ruindo!
O que Cuba foi capaz de exportar para a
Venezuela, em retribuição? Policiais e soldados para controlarem as Forças
Armadas e a população deste país: os comissários do “povo” para reprimirem o
verdadeiro povo! Os cubanos tornaram-se pilares da ditadura chavista, que
destruiu a economia, eliminou a divisão democrática dos Poderes, assenhorou-se
do Legislativo, sufocou totalmente as liberdades e submeteu o seu povo à fome e
à servidão. Convém lembrar que o mesmo Lula chegou a caracterizar a Venezuela
como um exemplo de democracia para o mundo e o Brasil. É nessa ditadura que o
PT e a esquerda desnorteada procuram se espelhar?
O passado e, no caso, o presente são plenos
de ensinamentos. Dentre eles, considerar um embuste a vocação democrática
lulopetista. Se assim não fosse, eles deveriam cessar de defender e elogiar
esses regimes liberticidas. É bem verdade que o Brasil se confronta hoje com
duas posições autoritárias, uma de extrema direita e outra dessa esquerda,
ambas disputando e se alimentando reciprocamente.
Se o País realmente almeja a democracia e o bem-estar de sua população, não pode compactuar com duas alternativas claramente não democráticas. Não se pode acreditar em artimanhas ideológicas. Disso depende nosso futuro!
*Professor de Filosofia na UFGRS.
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