segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Ricardo Noblat - Guedes dispara seu míssil para tentar reeleger Bolsonaro

Blog do Noblat / Metrópoles

Calote no pagamento de dívidas da União reconhecidas pela Justiça dará R$ 40 bilhões para o governo gastar a mais em 2022

Esta tarde, em reunião marcada no Palácio do Planalto, o ministro Paulo Guedes, da Economia, jogará na mesa para conhecimento dos presidentes da Câmara e do Senado, e de um grupo seleto de colegas, o trunfo que imagina dispor de modo a garantir mais quatro anos de mandato a seu chefe Jair Bolsonaro.

Trata-se de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o parcelamento em nove anos de dívidas da União reconhecidas pela Justiça (precatórios). Se ela for aprovada pelo Congresso, o governo poderá gastar 40 bilhões de reais a mais do que o previsto em 2022, justamente um ano de eleições.

Em conversas intramuros, Guedes refere-se à PEC como “um míssil”, capaz de destruir os maus presságios que turvam o futuro do governo, e de alavancar a popularidade de Bolsonaro ora em declínio. Haveria assim dinheiro à farta para investimentos em programas de atendimento aos brasileiros mais pobres.

Sim, os governos, às vésperas de eleições, sejam eles de esquerda ou de direita, costumam descobrir a existência de pobres e de promover algum alívio para seus bolsos. Não necessariamente porque eles são pobres, mas porque votam. É uma receita universal, o que não significa que funcione sempre, a depender.

Apelidada desde já pela Ordem dos Advogados do Brasil de “PEC do Calote”, o que não deixa de ser, a proposta de Guedes permitirá ao governo turbinar o programa Bolsa Família, que hoje paga em média 192 reais por mês a 14 milhões de pessoas. O valor do benefício passaria para 300 reais e alcançaria 17 milhões de pessoas.

Dinheiro na veia. A pedra foi cantada por Guedes na reunião ministerial de 22 de abril do ano passado, quando estava sob a pressão dos seus pares por mais gastos. Dali a seis meses haveria eleições municipais. A dada altura de sua intervenção gravada, o ministro prometeu:

“Vamos fazer todo o discurso da desigualdade, vamos gastar mais, precisamos eleger o presidente. Mas o presidente tem que pensar daqui a três anos. Não é daqui a um ano não. Tem muita gente pensando na eleição deste ano.”

As reformas do Estado prometidas pela dupla Bolsonaro-Guedes não saíram até hoje, mas o que disse o ministro sobre mais gastos para reeleger o presidente continua valendo. Guedes é homem de palavra pelo menos para certas coisas.

Ciro Nogueira cumprirá até o fim seu dever de advogado do Centrão

Presidente da República não pode tudo, mas quem pensa em tutelá-lo acaba se dando mal

O presidente Jair Bolsonaro voltou a falar que não haverá eleições ano que vem sem voto impresso. Em dois minutos, resumiu em vídeo para seus seguidores que saíram, ontem, às ruas, o que havia dito na “long live” da última quinta-feira no Facebook.

É possível que sua fala tenha aborrecido os principais líderes do Centrão que, em troca de cargos e de outros favores confessáveis ou não, se prontificaram a ajudá-lo a governar até o fim do mandato. Pode ter aborrecido, mas e daí? Quem tutela presidente?

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) aceitou o convite para chefiar a Casa Civil da presidência com a pretensão de ser visto como o novo Messias, capaz de pôr freios no espírito atormentado de Bolsonaro, e de restabelecer relações harmoniosas com os demais poderes.

Mas Messias já tem um, e ele não parece disposto a abrir mão do que imagina ir muito além de um simples sobrenome. Bolsonaro só dá ouvido ao que quer. Conforme-se, pois, Nogueira com sua missão original e não ouse ultrapassar certos limites.

Com ou sem o Rolex de mais de 80 mil reais no pulso, caberá a ele, presidente do maior partido do Centrão, advogar a favor dos interesses dos seus comandados que cobram mais facilidades, em espécie ou não, para se eleger ou reeleger. Em resumo é isso.

Bolsonaro não tem por que impedir que Nogueira cumpra seu papel, mas também não tem por que deixar que se torne uma espécie de primeiro-ministro. A última palavra é dele e sempre será. Deram-se mal até aqui os que se arriscaram a confrontá-lo.

Nogueira tem data marcada para dar por finda a tarefa que mal começou – quando julgar que já fez por seu pessoal tudo que poderia ter feito. O desembarque acontecerá quando começarem em 2022 as restrições de gastos impostas pela legislação eleitoral.

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