Folha de S. Paulo
Movimentos empresariais ajudam a destruir
economia pelo menos desde 2015
O caminhonaço de 2018 parou o país por
quase dez dias, acabou com a
expectativa de que a economia crescesse 2% naquele ano e
colocou o governo de Michel Temer de joelhos, dada a ameaça de colapso do
abastecimento.
A baderna rendeu um tabelamento de preços
(dos fretes) e subsídios de bilhões para caminhoneiros autônomos,
transportadoras e clientes do transporte rodoviário, como o agronegócio (tudo
muito liberal, né?). O Congresso anistiou os crimes dos baderneiros. O paradão
inclinou ainda mais a ladeira que o Brasil desce desde 2013, pelo menos.
Jair Bolsonaro apoiou o caminhonaço, claro,
ao lado de empresários e associações empresariais, como a Associação Brasileira
dos Produtores de Soja (Aprosoja) e a Confederação Nacional dos Dirigentes
Lojistas (CNDL).
A polícia investiga o atual presidente da
Aprosoja, o bolsonarista Antonio Galvan, suspeito de organizar manifestações golpistas
no 7 de Setembro (em 2018, era presidente da Aprosoja-MT, entusiasta do
caminhonaço). Blairo Maggi e a associação dizem que não apoiam Galvan, que
ainda comanda a Aprosoja, no entanto.
Grandes empresas e seus empresários, vários do varejo, do setor imobiliário e da finança, são bolsonaristas militantes ou colaboracionistas. Quase todo o resto foi omisso ou conivente. No fim das contas, esperavam acabar com o PT, passar a boiada de algumas “reformas” (trabalhista e previdenciária) e barrar aumento de impostos, ainda que para o ajuste fiscal, o que ficara evidente desde 2015, com o Movimento do Pato Amarelo, da Fiesp. A maioria se opõe a “reformas” que aumentam concorrência e eficiência (equalização de impostos, abertura comercial, fim de subsídios etc.).
Era evidente que mesmo esse programa mínimo
cínico daria com os burros n’água, ainda mais com o burro perverso no Planalto,
que levou para o governo, na economia inclusive, o mundo cão, o porão militar e
incompetentes e obscurantistas em geral.
A destruição ambiental, os talibãs na
educação, o morticínio na epidemia, o isolamento internacional, nada disso
levou o grosso do que se chama de “empresariado” a fazer um mea culpa. Mesmo
que não se importem de fato com esses assuntos, sabe-se que esse programa
destrutivo cedo ou tarde prejudica os negócios, com ou sem “reformas”. Quando
Bolsonaro repetiu a ameaça explícita de melar a eleição de 2022, mandaram um
telegrama tardio para o país.
Em suma, de um modo ou de outro, o grosso
do “empresariado” apoia ou apoiou a ruína
econômica.
O empresariado “reformista” não se moveu
também quando Bolsonaro ajudou a acabar com a Lava Jato, tocando Sergio Moro
para fora e nomeando Augusto Aras para a PGR —o liberal-lavajatismo fora uma
das correntes que levaram Bolsonaro ao poder. O sistema político, o
centrão-bolsonarismo em particular, fez o resto do serviço de dar cabo de investigações
contra corrupções e arrumou mais dinheiros para se manter no poder. Conseguiu
passar pela revolta de 2013, pela Lava Jato e está no comando do governo mais
reacionário e imbecil da nossa história quase sempre lamentável. Venceram.
Como é fácil perceber, o “empresariado
reformista” e o sistema político dominado pelo centrão fizeram um grande
arranjo de manutenção do establishment, com sucesso, mas sem perspectiva alguma
de progresso, em um país agora mais selvagem, cafajeste, cínico, queimado,
pobre, pária, ignorante, doente, miliciano e tutelado por generais
semiletrados.
Ainda vai ser preciso estudar muito para
entender a Grande Involução brasileira, que dirá para imaginar uma saída para
este desastre
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