O Globo
O ex-presidente Lula anunciou: se for
eleito em 2022, vai indicar um procurador-geral da República escolhido na lista
tríplice. “Eu não quero um amigo meu. Eu quero uma pessoa em que a sociedade
possa ter confiança”, disse, em entrevista à CBN Santa Catarina. “Senão, você
avacalha as instituições. Você avacalha a democracia”, acrescentou.
Se a promessa feita há duas semanas era
verdadeira, o ex-presidente deveria ter atuado contra a recondução de Augusto
Aras. Ontem seu partido fez o contrário no Senado. O petista Rogério Carvalho
chegou a participar do trenzinho de boas-vindas que conduziu o procurador à
Comissão de Constituição e Justiça.
O boicote à lista tríplice é o menor dos defeitos de Aras. O procurador usa o cargo como escudo para proteger Jair Bolsonaro do alcance da lei. Comporta-se como advogado do presidente, não como chefe do Ministério Público Federal. Sua omissão serve de licença à escalada autoritária do governo.
Aras é popular no Congresso porque brecou
as delações premiadas e enterrou a Lava-Jato. Na sabatina, ele buscou se
apresentar como um ombro amigo. “Meu pai foi vereador, deputado estadual,
deputado federal e presidente de partido. Eu sei o quanto sofre um político”,
contou. Sensibilizados, os senadores o presentearam com mais dois anos à frente
da PGR.
O PT não tinha votos para barrar a
recondução, mas poderia ter usado a sabatina para apertar o procurador
bolsonarista. O senador Rogério Carvalho preferiu gastar seu tempo com mesuras
e platitudes. “A gente só sabe a dor e a delícia de ser e de exercer um cargo
público quando a gente vive esse cargo público”, filosofou. O petista fez três
perguntas insossas e saiu da sala sem ouvir as respostas. “Vá tranquilo”,
retribuiu Aras, agradecido.
Com uma oposição assim, o procurador só
precisou se esquivar da pontaria de alguns radicais livres. “Aras satisfaz
muita gente porque é um procurador que não incomoda os políticos. Mas o que
estava em jogo era algo muito mais importante do que isso”, lamenta Fabiano
Contarato, da Rede. “A oposição ficou subserviente, aquiescente. Embarcou numa
visão míope e imediatista”, resume o senador, um dos dez que votaram contra o
indicado de Bolsonaro.
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