O Globo
A CPI da Covid apertou políticos, lobistas
e empresários que contribuíram para o avanço da pandemia. Faltou a mesma
coragem para confrontar militares que colaboraram com o morticínio.
A comissão chegou a ouvir o general Eduardo
Pazuello, ex-ministro da Saúde. Mas recusou-se a convocar o general Walter
Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e atual ministro da Defesa.
Os senadores Humberto Costa e Alessandro
Vieira apresentaram quatro requerimentos para que o oficial fosse inquerido. A
CPI vai terminar sem que nenhum deles tenha sido votado.
Não foi por falta de motivo. Por mais de um ano, Braga Netto comandou o comitê de crise que deveria coordenar as ações do governo. O órgão se notabilizou pela inércia e pela falta de transparência.
O general deixou sua marca no atraso para comprar vacinas e na demora para levar oxigênio a Manaus. Além disso, comandou a reunião em que a médica Nise Yamaguchi tentou emplacar uma mudança na bula da cloroquina. A ideia só foi abortada porque o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, recusou-se a participar da trama negacionista.
O acanhamento da CPI encorajou Braga Netto
a achincalhá-la. Em julho, o general emitiu uma nota em tom de ameaça ao
presidente da comissão, Omar Aziz. Ele chamou o senador de “irresponsável” e
“leviano” por criticar a participação de militares em malfeitos.
Renan Calheiros incluiu Braga Netto na
lista de pedidos de indiciamento. No relatório que deve ser lido hoje, ele
afirma que as “ações e inações” do general “são suficientes para que seja
apurada possível prática do crime de epidemia”. É verdade, mas o oficial se
beneficiou da falta de disposição para ouvi-lo.
Em conversas reservadas, senadores dizem
que a CPI poupou Braga Netto para não melindrar o Exército e não ajudar Jair
Bolsonaro a atiçar os quartéis. Se a razão foi essa, conclui-se que o golpismo
compensa.
Ontem o deputado Jorge Solla tentou
aproveitar uma audiência pública na Câmara para cobrar explicações ao general.
Ele se sentiu à vontade para ignorar todas as perguntas sobre a pandemia. A
atitude comprova que a CPI errou ao não obrigá-lo a depor.
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