quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Debate das prévias do PSDB tem mea-culpa sobre apoio a Bolsonaro e disputa por reformas

João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio debateram sobre teto de gastos, emendas parlamentares e reeleição, entre outros temas, em evento promovido pelos jornais O GLOBO e Valor (Veja o vídeo, abaixo)

Bernardo Mello e Camila Zarur / O Globo

RIO — O debate entre candidatos das prévias do PSDB, realizado nesta terça-feira pelos jornais o GLOBO e Valor, teve alfinetadas diretas e veladas entre os três participantes: o governador de São Paulo, João Doria, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. As críticas envolveram principalmente o apoio ao presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e a realização de reformas em âmbito estadual. Doria e Leite fizeram um mea-culpa sobre o apoio ao presidente no segundo turno.

No bloco inicial, Virgílio citou o voto declarado por Leite em Bolsonaro no segundo turno de 2018 e contestou que o governador não deveria ter se manifestado a favor do então candidato do PSL. Segundo Virgilio, se Leite achasse que venceria sem isso, "deveria ter desprezado esse apoio"; e, se pensasse que não venceria, "deveria ter perdido como um verdadeiro tucano".

Em sua resposta, Leite aproveitou para alfinetar Doria. O governador de São Paulo buscou associar seu nome a Bolsonaro já no primeiro turno da última eleição presidencial, e lançou no segundo turno o movimento "BolsoDoria".

— Eu no primeiro turno votei no Alckmin, ninguém tem dúvida de que votei nele. Fiz campanha junto, isso sim foi apoio, independentemente do que as pesquisas apontavam. Não vendo a alma para ganhar eleição a qualquer custo — disse Leite, que também citou o apoio de seu adversário naquela eleição, o então governador José Ivo Sartori (MDB), a Bolsonaro, mas de forma que também fazia referência velada a Doria.

— Em 2018 está claro qual foi minha postura. Apoio é pedir voto. O meu adversário juntou seu nome ao do Bolsonaro. Eu não fiz nada disso. Fiz minha declaração de voto à sociedade gaúcha deixando muito clara minhas diferenças em relação ao Bolsonaro — argumentou.

O assunto foi retomado no segundo bloco, quando o governador do RS perguntado pelo colunista e editor de Política do Valor, Cesar Felício, se considerava um erro a declaração de voto em Bolsonaro em 2018, e novamente alfinetou Doria, que chegou a viajar ao Rio em busca de um encontro com o então presidenciável:

— Eu não abracei, não fui atrás do Bolsonaro para tirar foto.

No terceiro bloco, ao ser questionado também sobre seu apoio a Bolsonaro em 2018, Doria fez um mea-culpa citando também o governador gaúcho.

— Claro que é [necessário fazer a autocrítica em relação ao apoio a Bolsonaro]. E eu faço essa autocrítica. Em relação ao Bolsonaro, eu errei, assim como o Eduardo [Leite] errou. Receber a crítica, analisá-la e compreendê-la faz parte daquilo que conduz o seu destino.

Sobre a posição do partido em relação a Bolsonaro, disse que o partido fez a autocrítica que era necessária ao se colocar como oposição ao que chamou de “governo genocida”.

— Eu errei, como o Eduardo errou e outros 65 milhões de brasileiros erraram — afirmou Doria.

Disputa por reformas

No segundo bloco, ao responder uma pergunta do colunista do GLOBO, Merval Pereira, sobre a possibilidade de abrir mão da cabeça de chapa na eleição presidencial mesmo em caso de vitória nas prévias do PSDB, Leite disse se considerar "preparado" para liderar um bloco de terceira via e passou a listar pontos de sua gestão no Rio Grande do Sul, dando ênfase a reformas. Ao citar a reforma administrativa, Leite disse ter feito uma "reforma profunda".

Em seguida, quando foi perguntado pelo colunista e chefe da redação do Valor em Brasília, Fernando Exman, sobre seu desempenho tímido em pesquisas até aqui, Doria também listou feitos de seu governo e afirmou que São Paulo foi "o único estado que fez reforma administrativa, e não apenas ajuste". Leite retomou o tema ao ter novamente a palavra, desta vez numa crítica mais direta a Doria.

— Não dá para dizer que São Paulo foi o único estado que fez reforma administrativa — afirmou Leite.

O governador gaúcho também sugeriu que seus adversários poderiam não apoiá-lo caso vençam as prévias tucanas.

— Se não for para liderar um projeto (presidencial), vou ajudar fazendo campanha, carregando santinho. Não sei o que os dois aqui vão fazer se perderem as prévias, mas eu sei que estarei fazendo campanha para eles — disse Leite.

'Picuinhas' internas

No primeiro bloco, em pergunta a Doria, Virgilio lamentou também "picuinhas" internas nas prévias do PSDB, em referência a críticas públicas trocadas entre o governador paulista e Leite. Doria chegou a anunciar na semana passada que não participaria do debate desta terça-feira por não ter sido consultado pelas regras do encontro através da direção nacional do PSDB, mas voltou atrás ainda no fim de semana e compareceu ao debate.

O ex-prefeito de Manaus procurou se esquivar, posteriormente, ao ser questionado pela colunista do Valor, Maria Cristina Fernandes, sobre uma declaração crítica a Doria em 2017, quando sugeriu em entrevista ao jornal "El País" que o então prefeito de São Paulo tratava as prévias do PSDB "como um motel".

— Às vezes eu não me seguro mesmo, mas a visão que tenho hoje do João é diferente do que tinha naquela época. Eu o respeito muito, assim como respeito o Eduardo. (...) As prévias desse ano são as prévias possíveis — disse Virgílio.

No terceiro bloco, Leite mostrou incômodo quando Arthur Virgílio disse que o gaúcho havia afirmado ser o candidato mais experiente nas prévias. Leite pediu direito de resposta, sob o argumento de ter sido atribuído a ele algo que na verdade não disse. Como não houve ofensa pessoal, contudo, única possibilidade para direito de resposta, o direito de resposta foi negado.

Em diversos momentos do debate, Leite também repetiu que considera necessário "fazer política, e não apenas gestão", numa indireta a Doria, que procura ressaltar ter perfil de "gestor".

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