O Globo
O ministro Onyx Lorenzoni está irritado com
a viagem de Lula à Europa. O bolsonarista reclamou da cobertura da imprensa e
acusou o ex-presidente de “falar mal do Brasil”. Fingiu confundir o país com o
inquilino do Alvorada.
Lula tem usado o giro internacional para
bater duro em Jair Bolsonaro. É o que se espera de qualquer candidato de
oposição ao governo. Em Bruxelas, o petista citou o aumento da fome e do
desemprego. Em Paris, lamentou a devastação da Amazônia e o fim do Bolsa
Família.
Em clima de campanha, o ex-presidente temperou as críticas com mensagens de otimismo. “Apesar de tudo, digo com total convicção: o Brasil tem jeito”, afirmou, na segunda-feira. Foi a senha para dizer que ele próprio, Lula, está pronto e disponível para “reconstruir” o país.
O petista organizou uma agenda sob medida para mostrar prestígio internacional. Reuniu-se com o futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e será recebido hoje pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Bolsonaro não cultiva boas relações com a dupla. Ignorou o alemão no G20 e vive às turras com o francês desde que chegou ao poder.
Enquanto Lula negocia com os líderes
europeus, o capitão faz mais um tour por ditaduras do Golfo Pérsico. Ontem ele
se desmanchou em elogios à monarquia absolutista do Bahrein. Na véspera,
visitou Dubai, sob controle da mesma dinastia desde 1833.
Diante de plateias acostumadas à censura, o
presidente mentiu à vontade. Chegou a dizer que a Amazônia “não pega
fogo” por ser uma floresta úmida. Um deboche com o aumento das queimadas
registrado em seu governo.
Não é difícil apontar falhas e
inconsistências nos discursos de Lula. Em palestra na Sciences Po, ele definiu
a Lava-Jato como uma “quadrilha” montada para destruir a Petrobras. Omitiu políticos
e empresários que confessaram desvios e devolveram dinheiro à estatal. Em outro
momento, o ex-presidente desconversou ao ser questionado sobre a repressão a
protestos em Cuba. Preferiu reclamar do bloqueio americano à ilha.
Apesar dos tropeços, o líder das pesquisas voltará para casa com uma imagem poderosa: foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu. Mais do que qualquer discurso, essa cena explica a irritação dos bolsonaristas.
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