Folha de S. Paulo
Governo
não tem dinheiro para reajuste de servidor e também alugar o centrão
Gente que vai deixar de receber auxílio
emergencial faz
fila para entrar no Cadastro Único, a lista de quem quer receber o Auxílio
Brasil, substituto do Bolsa Família.
A partir de agora, uns 19 milhões vão ficar sem auxílio emergencial e sem
Auxílio Brasil.
De modo discreto, essa fila da fome
apareceu aqui e ali, em jornais e TVs. Não se dá muita bola para esses
"invisíveis" à vista.
De modo espalhafatoso, Jair
Bolsonaro disse que quer
dar aumento para os servidores federais. Se conseguir, não vai sobrar mais
nada daqueles R$ 91,6 bilhões que pretende arrumar com o calote
dos precatórios e com o reajuste do teto
de despesas do governo.
Não sobraria nada para aumentar o dinheiro de emendas parlamentares: para pagar o aluguel do centrão. Não sobraria nada para aqueles 19 milhões na fila da fome. Já não estava previsto que essas pessoas recebessem ajuda. Agora, Bolsonaro junta insulto ao prejuízo.
Se não usar o dinheiro da PEC, como quer
Bolsonaro, o governo terá de cortar em outra parte: acabar de destruir
a ciência ou nem fazer obra de tapar buraco em estrada.
O reajuste dos servidores levaria poucos
votos novos para Bolsonaro. Afetaria uns 2 milhões de pessoas, a maioria das
quais o rejeita até se mumificado e pintado de ouro.
O que quer Bolsonaro? Entrou na fase Nero
final?
Entre algumas pessoas que administram
grandes dinheiros, a impressão que ficou é de que Bolsonaro vai para o
"nada ou nada", como disse um tesoureiro de bancão: não vai ganhar
voto com as voadoras eleitoreiras e vai "tocar fogo na economia".
Bolsonaro passou a impressão de que pode
fazer ainda qualquer negócio para aumentar as despesas de modo tresloucado e
inepto. Na prática, não é tão simples. Mas, na percepção de quem observa a
economia e administra dinheiro, Bolsonaro está desembestado de vez.
Se a PEC dos Precatórios passasse como o
governo quer, daria quase R$ 92 bilhões de gasto extra. Descontem-se daí
o aumento
de despesa com o Auxílio Brasil, com o gasto obrigatório elevado por causa
da inflação disparada e com o desconto
de impostos sobre a folha salarial de empresas. Sobram uns R$ 15 bilhões.
Um reajuste de 5% para os servidores dá mais do que isso. Não sobraria mais
nada, pois. Nem para o vale-gás, quase aprovado no Congresso.
O Auxílio Brasil aumentaria o valor mensal
do Bolsa Família e incluiria mais uns 3 milhões no pacote (17 milhões de
famílias, no total). Outras 19 milhões que ora recebem o auxílio emergencial
ficam sem nada. Muita gente que vai receber esse Bolsa Família menos magro já
detesta Bolsonaro. Quem vai perder tudo, vai achar o quê? Qual o saldo
eleitoral disso? Talvez negativo.
Haverá mais débitos socioeconômicos e
político-eleitorais. Bolsonaro jogou no lixo a recuperação que vinha bem até o
primeiro trimestre. A zorra golpista, a pregação da morte na epidemia, o
desgoverno da economia, tudo isso e algo mais encareceu
o dólar e elevou inflação e juros. Mais gente não vai conseguir emprego.
Vai viver de bicos e trocados, se tanto.
O valor que vai sair da PEC dos
Precatórios ainda
depende de votos no Senado. No limite, pode até cair. Então, o governo
talvez queira editar um decreto de calamidade para gastar ou pedir
"créditos extraordinários" a fim de bancar o Auxílio Brasil, o que
pode ser ilegal. É mais provável que parlamentares façam um arranjo qualquer
com a PEC, limitando o estrago ao que já se sabe. Mas a hipótese de idiotice
extra está na mesa ou, melhor, na roleta russa de Bolsonaro, no cano que ele
encostou na cabeça do país. Pelo menos, o receio agora é esse, o vale-tudo
final de Bolsonero.
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