Folha de S. Paulo
Deu uma aula sobre como qualquer pessoa
jamais deveria se comportar
Jair Bolsonaro é o típico conservador que
diz preferir um filho morto a um gay, fala em nome da família
"tradicional", repudia a educação sexual nas escolas, mas usa um
evento oficial do governo para insinuar que transou com sua mulher
horas antes. Só faltou dar uma ajeitada nas partes íntimas para
coroar o momento constrangedor.
Longe de mim ser pudica. Escrevi durante mais de dez anos sobre sexo em revistas masculinas. Levava àquele público a visão feminina, a minha, sobre a temática na tentativa de diminuir o abismo que há entre homens e mulheres em tópicos como desejo, frequência, filme pornô, consentimento e tudo o mais que deve ser discutido. Ou seja, tudo.
Minha vida sexual é também tema de crônicas
nesta Folha, o que em geral deixa os bolsonaristas bastante eufóricos. Para
eles é um horror que uma mulher fale ou escreva sobre sua sexualidade, que
divida intimidades, ainda mais sendo "velha", como eu. Mesmo que eu
jamais tenha exposto quem quer que seja por razões que eu imaginava óbvias.
Sexo, como pudemos perceber na fala do
presidente e nas risadas da plateia, é um lugar confortável para homens, que
alimentam publicamente o estereótipo do machão comedor, mesmo que seja à custa
da própria mulher. No caso de Bolsonaro soa ainda pior, porque ele está longe
de ser um sujeito que trata o assunto com naturalidade.
A impressão é que ele usou o palanque e a
primeira-dama para responder provocações de quem o chama de corno e amplifica
rumores de que "não dá no couro". Discussões machistas e sem
relevância entre tudo o que há para se criticar neste governo, mas que ganham
voz por meio de gente dita progressista.
Sobre Bolsonaro e o sexo matinal, para quem
é tão preocupado com o que as crianças podem ou não aprender na escola sobre o
tema, o presidente deu uma aula sobre como qualquer pessoa jamais deveria se
comportar.
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