Valor Econômico
Partido ganhou o status de adversário
prioritário do chefe do Executivo em São Paulo
Embora previsível, o entrevero que resultou
na suspensão do evento que formalizaria a filiação do presidente Jair Bolsonaro
ao PL ocorreu mais cedo do que estimavam aqueles que acompanhavam as
negociações de perto. E quem saiu ganhando, desta vez, foi o PSDB.
A poucos dias das eleições internas que
definirão o pré-candidato do partido, o PSDB está rachado. Ainda assim, ganhou
o status de adversário prioritário do chefe do Executivo no principal colégio
eleitoral do país.
Na aproximação entre Bolsonaro e PL, algum
atrito era dado como certo. Foi-se o tempo em que ele mudava de partido sem
fazer exigências.
Isso ocorreu quando passou pelo PTB (de 2003 a 2005), PFL (2005), PP (entre 2005 e 2016) e PSC (2016, 2017 e 2018). Eram seus tempos de baixo clero. A exceção foi o PSL, onde entrou em 2018 e do qual saiu brigado justamente por querer avançar sobre o domínio dos outros.
Vale relembrar uma história confidenciada
por um deputado que teve Bolsonaro como contemporâneo quando liderava a bancada
de seu partido. Segundo ele, o colega tinha o costume de fazer apenas dois
pedidos. Um era a indicação para ser titular da Comissão de Relações Exteriores
e Defesa Nacional da Câmara, colegiado onde poderia participar diretamente das
discussões relativas às Forças Armadas, temática que o assegurou seguidos
mandatos parlamentares. A outra demanda era ter permissão para utilizar o tempo
do partido para discursar sobre o que quisesse quando a sessão não fosse
deliberativa.
Era quando Bolsonaro criava problemas, mas
para si próprio. Não para a legenda. Muito menos para os seus correligionários.
Bolsonaro gosta de mandar. Hoje, faz
questão de indicar candidatos, influenciar na construção de acordos locais e
vetar alianças. E o desafio para quem pretende inclui-los numa ampla coligação
é que Bolsonaro e companhia têm interesses próprios, os quais muitas vezes se
chocam com os objetivos do todo.
O presidente ignorou alguns conselhos e
preferiu aguardar, jogar parado. Enquanto gastava tempo e energia atacando os
outros Poderes, viu adversários avançando com liberdade nas costuras estaduais.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
por exemplo, poucas entrevistas deu. Por outro lado, viajou pelo país e se
reuniu com diversos dirigentes partidários em Brasília. Em silêncio, o PSD
também arquitetou uma série de palanques nos Estados para Rodrigo Pacheco (MG),
presidente do Senado e postulante a personificar uma candidatura de terceira
via.
Mas Bolsonaro permanece isolado em Estados
estratégicos. Em São Paulo, vê-se dependente do resultado das prévias do PSDB
para construir uma aliança. Sem querer, o presidente da República foi capaz de
lembrar aos tucanos, os quais empreendem uma disputa interna brutal a poucos
dias das prévias, que o partido precisará ter responsabilidade para permanecer
unido independentemente do resultado das eleições primárias.
Estudo de caso
A propósito: há anos estudiosos se debruçam
sobre os motivos que levam os partidos a realizarem prévias e as consequências
dessa opção.
Nos Estados Unidos, por exemplo, elas
ganharam impulso daqueles que buscavam combater o poder dos dirigentes
partidários e suas respectivas máquinas. A ideia era restaurar o direito do
povo de definir seu destino político. Seus críticos, por sua vez, apontam as
prévias como um dos fatores que podem contribuir para o enfraquecimento das
legendas como instituições, que, apesar de suas falhas, são essenciais para o
sistema político democrático.
Isso porque normalmente as eleições
primárias são vistas como um passo positivo para a vivência da democracia por
permitirem a inclusão de cidadãos comuns em processos decisórios controlados
por um número reduzido de líderes. No entanto, acreditam esses especialistas,
em alguns casos elas podem acabar reproduzindo no ambiente partidário práticas
condenadas em outros níveis da política. Fala-se, aqui, de problemas que podem
descambar para o uso do poder econômico como instrumento de convencimento e até
mesmo irregularidades mais graves.
Uma discussão comum mundo afora é como a
definição do universo de votantes e a escolha do sistema empregado no pleito
podem influenciar os resultados. Outros pontos levantados são a elevação dos
gastos de campanha, a possibilidade desse mecanismo incentivar o surgimento de
forças políticas personalistas em detrimento da discussão do futuro do partido
em si e de projetos para o país.
É evidente o risco de uma disputa desse
tipo acabar na Justiça. No Brasil, aliás, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
tem uma preocupação de evitar que prévias acabem ganhando um caráter de
propaganda eleitoral antecipada. Para aqueles que se interessam pelo tema, no
Brasil e no exterior, será interessante acompanhar as prévias que foram
marcadas pelo PSDB para domingo.
Discurso liberal
Não haverá trégua para a política de preços
da Petrobras. A estatal pode investir o montante que quiser em campanhas
publicitárias para tentar esclarecer quanto gasta na produção de cada litro de
combustível e o valor faturado com a venda do produto. Continuará, ainda assim,
sob pressão do Congresso e do presidente Jair Bolsonaro.
Porém, não está no horizonte do governo
executar um movimento objetivo para privatizar a empresa neste mandato.
Bolsonaro busca mais do que um culpado para a alta dos preços: tenta construir
um discurso capaz de manter o eleitor liberal orbitando ao redor de sua candidatura
até outubro do ano que vem.
Neste intento, pode sobrar para o Banco do
Brasil - sobretudo se a Caixa Econômica Federal for bem-sucedida em seus planos
de ganhar mercado no agronegócio, onde o BB sempre foi visto como fundamental
para viabilizar as políticas públicas voltadas ao setor.
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