quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Fernando Exman - Bolsonaro joga luz sobre prévias do PSDB

Valor Econômico

Partido ganhou o status de adversário prioritário do chefe do Executivo em São Paulo

Embora previsível, o entrevero que resultou na suspensão do evento que formalizaria a filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL ocorreu mais cedo do que estimavam aqueles que acompanhavam as negociações de perto. E quem saiu ganhando, desta vez, foi o PSDB.

A poucos dias das eleições internas que definirão o pré-candidato do partido, o PSDB está rachado. Ainda assim, ganhou o status de adversário prioritário do chefe do Executivo no principal colégio eleitoral do país.

Na aproximação entre Bolsonaro e PL, algum atrito era dado como certo. Foi-se o tempo em que ele mudava de partido sem fazer exigências.

Isso ocorreu quando passou pelo PTB (de 2003 a 2005), PFL (2005), PP (entre 2005 e 2016) e PSC (2016, 2017 e 2018). Eram seus tempos de baixo clero. A exceção foi o PSL, onde entrou em 2018 e do qual saiu brigado justamente por querer avançar sobre o domínio dos outros.

Vale relembrar uma história confidenciada por um deputado que teve Bolsonaro como contemporâneo quando liderava a bancada de seu partido. Segundo ele, o colega tinha o costume de fazer apenas dois pedidos. Um era a indicação para ser titular da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, colegiado onde poderia participar diretamente das discussões relativas às Forças Armadas, temática que o assegurou seguidos mandatos parlamentares. A outra demanda era ter permissão para utilizar o tempo do partido para discursar sobre o que quisesse quando a sessão não fosse deliberativa.

Era quando Bolsonaro criava problemas, mas para si próprio. Não para a legenda. Muito menos para os seus correligionários.

Bolsonaro gosta de mandar. Hoje, faz questão de indicar candidatos, influenciar na construção de acordos locais e vetar alianças. E o desafio para quem pretende inclui-los numa ampla coligação é que Bolsonaro e companhia têm interesses próprios, os quais muitas vezes se chocam com os objetivos do todo.

O presidente ignorou alguns conselhos e preferiu aguardar, jogar parado. Enquanto gastava tempo e energia atacando os outros Poderes, viu adversários avançando com liberdade nas costuras estaduais.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, poucas entrevistas deu. Por outro lado, viajou pelo país e se reuniu com diversos dirigentes partidários em Brasília. Em silêncio, o PSD também arquitetou uma série de palanques nos Estados para Rodrigo Pacheco (MG), presidente do Senado e postulante a personificar uma candidatura de terceira via.

Mas Bolsonaro permanece isolado em Estados estratégicos. Em São Paulo, vê-se dependente do resultado das prévias do PSDB para construir uma aliança. Sem querer, o presidente da República foi capaz de lembrar aos tucanos, os quais empreendem uma disputa interna brutal a poucos dias das prévias, que o partido precisará ter responsabilidade para permanecer unido independentemente do resultado das eleições primárias.

Estudo de caso

A propósito: há anos estudiosos se debruçam sobre os motivos que levam os partidos a realizarem prévias e as consequências dessa opção.

Nos Estados Unidos, por exemplo, elas ganharam impulso daqueles que buscavam combater o poder dos dirigentes partidários e suas respectivas máquinas. A ideia era restaurar o direito do povo de definir seu destino político. Seus críticos, por sua vez, apontam as prévias como um dos fatores que podem contribuir para o enfraquecimento das legendas como instituições, que, apesar de suas falhas, são essenciais para o sistema político democrático.

Isso porque normalmente as eleições primárias são vistas como um passo positivo para a vivência da democracia por permitirem a inclusão de cidadãos comuns em processos decisórios controlados por um número reduzido de líderes. No entanto, acreditam esses especialistas, em alguns casos elas podem acabar reproduzindo no ambiente partidário práticas condenadas em outros níveis da política. Fala-se, aqui, de problemas que podem descambar para o uso do poder econômico como instrumento de convencimento e até mesmo irregularidades mais graves.

Uma discussão comum mundo afora é como a definição do universo de votantes e a escolha do sistema empregado no pleito podem influenciar os resultados. Outros pontos levantados são a elevação dos gastos de campanha, a possibilidade desse mecanismo incentivar o surgimento de forças políticas personalistas em detrimento da discussão do futuro do partido em si e de projetos para o país.

É evidente o risco de uma disputa desse tipo acabar na Justiça. No Brasil, aliás, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem uma preocupação de evitar que prévias acabem ganhando um caráter de propaganda eleitoral antecipada. Para aqueles que se interessam pelo tema, no Brasil e no exterior, será interessante acompanhar as prévias que foram marcadas pelo PSDB para domingo.

Discurso liberal

Não haverá trégua para a política de preços da Petrobras. A estatal pode investir o montante que quiser em campanhas publicitárias para tentar esclarecer quanto gasta na produção de cada litro de combustível e o valor faturado com a venda do produto. Continuará, ainda assim, sob pressão do Congresso e do presidente Jair Bolsonaro.

Porém, não está no horizonte do governo executar um movimento objetivo para privatizar a empresa neste mandato. Bolsonaro busca mais do que um culpado para a alta dos preços: tenta construir um discurso capaz de manter o eleitor liberal orbitando ao redor de sua candidatura até outubro do ano que vem.

Neste intento, pode sobrar para o Banco do Brasil - sobretudo se a Caixa Econômica Federal for bem-sucedida em seus planos de ganhar mercado no agronegócio, onde o BB sempre foi visto como fundamental para viabilizar as políticas públicas voltadas ao setor.

 

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