O Estado de S. Paulo
Indefinição
Não por acaso, a eventual não candidatura a
presidente segue como opção para os tucanos
As prévias tucanas definem não apenas o
possível candidato do partido em 2022, mas o nome que pode liderar a legenda em
um dos momentos mais cruciais de sua história, em busca do protagonismo que
perdeu em 2018, com a vitória do presidente Jair Bolsonaro.
Aquele pleito deslocou o PSDB da
organização da competição política no Brasil, colocando um desafio para o partido
no próximo ano; retomar o papel de legenda com capacidade de formular e
executar um projeto de Nação ou permanecer como sigla satélite no interior da
constelação partidária, orientando sua sobrevivência à política local.
Esse delicado momento do PSDB, paradoxalmente, ocorreu justamente quando o PT, seu maior adversário, passou por crises profundas com o mensalão e, depois, a Lava Jato. Se seu maior adversário passa por um processo de impeachment, e seu maior rival não ganha votos, é sinal de risco de sobrevivência organizacional.
Curiosamente, o resultado das prévias pode
se tornar secundário diante da falta de coesão entre as lideranças tucanas e de
identidade junto ao eleitorado.
O adiamento das prévias significa não
apenas mais um capítulo de uma novela marcada pelo questionamento das regras de
seleção dos candidatos, mas parece traduzir os dilemas organizacionais.
O partido segue sem um projeto minimamente
coeso apoiado por suas lideranças. Se no passado as acusações sobre a falta de
unidade e o conflito entre os caciques ficavam atrás das cortinas, o atual
momento tucano é marcado por acusações públicas.
Reconquistar uma identidade política é o
primeiro desafio do vencedor das prévias. O partido parece repetir o erro de
2018, quando entrou em uma eleição apoiando um governo rejeitado.
Hoje, mesmo sem apoiar o governo Bolsonaro,
o PSDB parece não ter encontrado sua marca. Além disso, o partido é ameaçado
pelo ex-juiz Sérgio Moro na mobilização da terceira via.
Não por um acaso, a eventual não
candidatura a presidente segue como opção dos tucanos.
Assim, o resultado das prévias pode ser
secundário diante da falta de união partidária rumo à 2022. Na prática, o
atraso traz mais tempo para a solução dos dilemas existenciais.
*Cientista político e sócio da Tendências Consultoria
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