Folha de S. Paulo
Em 2022, país terá procurador-geral que dá
conforto ao presidente para praticar desmandos
Assim que Augusto Aras tomou posse, Jair
Bolsonaro definiu a relação entre os dois como "um
amor à primeira vista". O procurador-geral fez questão de retribuir a
declaração: prometeu uma atuação alinhada à "cultura judaico-cristã",
brindou o presidente com tolerância máxima e chegou a chamar de "festa
cívica" os
atos golpistas de 7 de setembro.
A tabelinha continua firme. Na segunda (13), Aras pediu que o STF cancele um inquérito contra Bolsonaro pela falsa associação feita por ele entre vacinas contra a Covid e o HIV. O procurador já havia tentado barrar o caso em novembro, elencando 14 motivos para não investigar o presidente. Agora, ele diz que o inquérito não é necessário porque já existe uma ação na corte sobre o caso.
Aras poupa Bolsonaro da incômoda obrigação
de responder pelos próprios atos. Para não levar o presidente ao Supremo, ele
multiplicou o número de apurações conduzidas dentro da PGR, a pretexto de
evitar a sobrecarga do tribunal. Ministros já apontaram "inércia" do
procurador-geral e afirmaram que ele age
como "espectador" em situações envolvendo o governo.
A generosidade se estende a aliados do
presidente. Em junho de 2020, a
PGR acusou Arthur Lira de ter recebido R$ 1,6 milhão de uma
empreiteira. Tempos depois, quando o deputado se tornou o candidato de
Bolsonaro à presidência da Câmara, a subprocuradora-geral Lindôra Araújo
recuou, disse que as provas eram frágeis e pediu o fim do processo.
A PGR sabe ser ágil quando há outros
interesses em jogo. Dois dias depois que Renan Calheiros apresentou o relatório
da CPI da Covid, Lindôra tentou desengavetar um inquérito de corrupção contra o
senador. Braço direito de Aras, ela havia pedido o arquivamento do caso meses
antes, mas mudou de ideia.
Mesmo preterido na corrida por uma vaga no
Supremo, Aras indica que vai com Bolsonaro até o fim. No ano eleitoral, o país
terá um procurador-geral que é duro com adversários, mas dá
conforto ao presidente para praticar seus desmandos.
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