O Estado de S. Paulo
Os investidores vão encarar um 2022 que
pode resultar em desfecho ainda mais extremo para o Brasil
Ressabiados por um ano em que a inflação e
os juros subiram bem mais do que o previsto e a forte recuperação da economia,
após o pior momento da pandemia de covid,
minguou com rapidez, os investidores vão encarar um 2022 que pode resultar em
desfecho ainda mais extremo para o Brasil.
Estariam os investidores precificando corretamente os riscos para a economia brasileira em 2022? Basicamente, são dois os maiores riscos domésticos e eles estão relacionados: o fiscal e o político. Para o primeiro, o mercado está relativamente otimista – ou será pura leniência? Para o segundo, a visibilidade é baixa.
Apesar de o trecho promulgado da PEC dos Precatórios ter alterado as
regras do teto de gastos, os preços dos ativos brasileiros e as
projeções de indicadores fiscais refletem a visão de que, apesar da percepção
de quebra, não houve um abandono total dessas regras. E que o governo e o Congresso não
teriam perdido completamente o pudor de gastar desenfreadamente no ano da
eleição presidencial.
Tanto que o mercado está projetando um
resultado primário entre 0,5 ponto e 1 ponto porcentual pior do que se
imaginava. Na mais recente pesquisa Focus, a mediana das projeções de
analistas prevê que o déficit primário esperado de 0,6% do PIB neste ano vai aumentar para 1,20% do PIB em 2022.
Se a percepção fosse de “liberou geral”
após a PEC dos Precatórios, que abriu um espaço de mais de R$ 91 bilhões
no Orçamento de 2022, essas estimativas já teriam piorado em
3 pontos porcentuais, pelo menos. Mesmo considerando que o Brasil perdeu sua
única âncora fiscal com as mudanças no teto de gastos, boa parte dos
investidores acredita que, após a aprovação da PEC, as possibilidades
institucionais para expansão maior dos gastos em 2022 passaram a ser remotas.
É aí que a eleição presidencial coloca em
xeque a percepção de que o pior em termos fiscais já passou com a PEC. Quem
garante que se a aprovação do presidente Jair
Bolsonaro seguir em baixa e ele perder mais terreno nas
pesquisas de intenção de voto, o governo e os líderes do Centrão não
encontrariam meios criativos para gastar mais no ano que vem?
E se o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) subir muito nas próximas pesquisas, ameaçando
abocanhar a vaga do presidente no segundo turno, como reagirá Bolsonaro? E se o
ex-presidente Lula vencer a eleição, como seria o seu novo governo –
parecido com o de 2003, mais ortodoxo na economia, ou com o seu segundo
mandato, mais gastador? Antecipar cenários para 2022, hoje, teria a mesma
precisão do que jogar Tarô.
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