O Globo
Tão logo os brasileiros pulem as sete
ondinhas e façam seus desejos para um 2022 que promete ser ainda mais duro que
o último biênio, Jair Bolsonaro já terá rasgado a fantasia de moderado que
Michel Temer lhe vestiu e estará de volta à velha forma conspiracionista,
atirando contra tudo e todos. Desta vez com o cartão de crédito dos gastos
populistas e eleitoreiros na mão e com limite alto.
Aos poucos, o presidente já vai se despindo
do figurino que lhe causa desconforto, o que respeita as instituições e o
contraditório.
Faz isso ao mesmo tempo que cerca sua base mais ideologizada à custa de bravatas e de promessas de benefícios financeiros ou empresariais.
A nova investida se dá junto aos policiais
federais, num momento em que há muitas imbricações de interesses da sua família
e dos seus sob responsabilidade da PF.
O prometido reajuste geral a servidores no ano eleitoral começou justamente pelos policiais. Veio na forma que também já se tornou usual no método bolsonarista: apenas avisando a Paulo Guedes que ele se vire para arrumar o dinheiro.
Na esteira da PF virão os demais
funcionários públicos, num movimento que, além de pressionar o já fictício
Orçamento da União, também gerará um efeito de pressão em cascata sobre estados
e municípios. Afinal, há governadores que são candidatos e estão igualmente ávidos
por um populismo que os faça decolar nas pesquisas.
Eis a fórmula que o presidente usará para
tentar se reeleger. Se em 2018 contou apenas com o lavajatismo e o antipetismo
para alimentar uma estrutura que vinha montando desde anos antes, cevando uma direita
radicalizada diante da qual até então a política, a imprensa e a academia
estavam distraídas, agora o presidente precisa de mais. E tem: a estrutura de
Estado, o dinheiro conseguido à custa de calote, pedaladas e o apoio de um
Centrão cooptado pelo orçamento secreto.
Essa grana ilimitada será usada para tentar
compensar a perda de uma parcela do eleitorado que era formada justamente pelos
insatisfeitos com a política como um todo ou com o PT, em particular, que já
fugiram do barco diante da conduta criminosa do governo na pandemia, das
investidas contra a democracia, do desmonte das políticas públicas em todas as
áreas e todo o resto do legado destrutivo de Bolsonaro.
Quem é o eleitor-alvo da fase de populismo
fiscal que já começou? Os beneficiários de programas sociais, os servidores
agora adulados e quem mais puder ser atingido pelas políticas federais voltadas
a desmontar estruturas de contenção a determinadas atividades — garimpeiros,
madeireiros, caçadores e atiradores, o grupo é grande.
Para atrair esses nichos e manter o núcleo
duro da extrema direita ainda fiel é que o Bolsonaro que bate, deixa bater,
divulga fake news, demoniza o Supremo e conspira contra o voto eletrônico e a
vacina precisa voltar em todo o seu esplendor.
Alguns últimos atos deste 2021 têm de
acontecer antes que ele saia do casulo: a posse do amigão André Mendonça no STF
nesta semana, a votação do Orçamento, a conclusão da PEC dos Precatórios, o
abafa das investigações contra o filho Flávio.
Bolsonaro está riscando essas datas no
calendário como presos fazem marcas na parede à espera da soltura.
Tão logo ele colha o fruto de todas essas
colheres de chá que lhe foram sendo dadas pelos próprios ministros dos
tribunais superiores, por deputados e senadores da oposição, pelo TCU e por uma
sociedade que parece disposta a esquecer em breve até os 616 mil mortos da
pandemia, aí é melhor apertar o cinto. Cenas como as covardes agressões a
jornalistas sob olhar aprovatório do presidente serão constantes e
incentivadas. Com dinheiro ilimitado, tende a ser ainda mais fácil.
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