Folha de S. Paulo
Qual personagem do ministro vai aparecer
para trabalhar no tribunal nos próximos 26 anos?
No governo, André Mendonça fez de tudo para
conquistar Jair Bolsonaro. Tentou intimidar críticos do presidente, defendeu
comemorações oficiais do golpe de 1964 e sustentou que "os
verdadeiros cristãos estão dispostos a morrer" para manter
templos religiosos abertos na pandemia. Tamanha sintonia garantiu a ele uma
indicação ao STF.
Outro André Mendonça apareceu na sabatina do Senado. Ele disse que só acionou a Polícia Federal contra opositores do governo porque o presidente se sentiu ofendido, afirmou que não há espaço para retrocessos democráticos e se comprometeu com o Estado laico. Com a pirueta, conseguiu um apoio extra para garantir uma cadeira no tribunal.
O André Mendonça aprovado nesta quarta (1º)
não teria sido indicado por Bolsonaro ao STF –teria sido demitido antes disso.
O novo ministro tentou se descolar da imagem do presidente e reduzir o aspecto
religioso de sua escolha. É difícil saber qual personagem vai aparecer na corte
nos próximos 26 anos.
Bolsonaro nunca escondeu que a religião de
Mendonça era uma
credencial para aquela indicação. Na sabatina, o escolhido se
esquivou de temas espinhosos e disse que seguiria a Bíblia na vida, mas a
Constituição no STF. Meses atrás, ele fez questão de levar a Bíblia ao Supremo:
citou um versículo de Matheus para defender cultos religiosos nas fases
críticas da pandemia.
Com o novo discurso, Mendonça acalmou
alguns parlamentares. Ele adoçou o plenário com a promessa de não
"criminalizar a política" e um pacto para manter o entendimento atual
do STF contra a prisão em segunda instância. Completou, assim, uma aliança
formada por bolsonaristas, opositores e o centrão.
O ministro chega ao tribunal com o mesmo
roteiro que garantiu
um segundo mandato a Augusto Aras. Naquela votação, os senadores
engoliram um tom mais ameno, aceitaram uma oferta de defesa da classe política
e acreditaram que ele deixaria de se alinhar a Bolsonaro. O trabalho do
procurador-geral fala por si.
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