O Estado de S. Paulo
Não
foram apenas os mercados que tiveram reações irracionais diante das notícias do
aparecimento da variante Ômicron da covid-19. Os governos também operaram mal e
continuam operando mal o ataque ao problema – e aí nem estamos falando do
brutal negacionismo do presidente Jair Bolsonaro.
A maior irracionalidade continua sendo a falta de cuidado dos governos dos países avançados para com a população dos países mais pobres, que não contam com recursos para garantir a vacinação. E não basta doar vacinas, como alguns governos começaram a fazer. É preciso garantir infraestrutura e logística para administrá-las. Os maiorais do mundo continuam se reunindo no G-7 ou no G-20, mas até agora não foram capazes de definir uma política comum de ataque ao vírus, em quaisquer de suas ondas.
Trabalhar
para a imunização dos países pobres não é política de benemerência. É política
de interesse próprio. Enquanto um único país continuar desassistido, o mundo
inteiro continuará desassistido porque o vírus não conhece fronteiras e se
espalha a partir dos focos que lhe dão condições de se espalhar. E os maiores
focos dessa natureza são os países não vacinados ou atrasados na vacinação.
É
muita hipocrisia condenar esses países a restrições de todo o tipo e, ao mesmo
tempo, não tomar providências para erradicar o vírus onde ele existe. De que
adianta promover reforços de vacinação aos já vacinados sem a adoção de uma
política global de controle do vírus?
Também
não faz sentido, por exemplo, proibir apenas voos provenientes de determinados
países africanos quando a variante Ômicron já tomou centros mais desenvolvidos,
como é o caso do Reino Unido (veja gráfico), que já conta com dezenas de casos
confirmados. Até esta quarta-feira, a variante foi encontrada em mais de 20
países. Cada caso detectado pressupõe a existência de mais casos – sabe-se lá
quantos – não detectados. Nessa velocidade, todos os países terão rapidamente
seus casos. Será, então, necessário cortar os voos para todo o mundo? Se todos
já tivessem sido vacinados, não haveria campo para disseminação do coronavírus
nem para suas mutações.
As
primeiras informações sobre a cepa Ômicron não completaram nem dez dias. Afora
o fato de que apresenta múltiplas mutações na proteína S, pouco já se sabe
sobre seu comportamento e seu nível de virulência. A Organização Mundial da
Saúde avisou que o risco de disseminação da variante é “muito alto”.
Enquanto
prevalecer esse desconhecimento, o melhor antídoto continua sendo a
intensificação da vacinação, o uso de máscaras, os protocolos de higiene já
conhecidos e o desestímulo às aglomerações.
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