segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Catarina Rochamonte: Ciro e Lula: isso sim é corrupção

Folha de S. Paulo

A declaração de Lula em relação ao orçamento secreto visava minimizar o mensalão petista

Ciro Gomes nega envolvimento em esquema de corrupção na construção do estádio Castelão, supostamente ocorrido entre 2010 e 2013 e que está sendo investigado pela Polícia Federal desde 2017. Após a PF cumprir mandados de busca e apreensão em endereços seus e do seu entorno, Ciro alegou perseguição de Bolsonaro, a quem acusou de ter montado um estado policial.

É fato que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal —o que, aliás, foi denunciado por Sergio Moro— porém, o que efetivamente conseguiu de controle é incerto. Pelo que até agora se sabe, a referida investigação da PF foi realizada no âmbito da sua autonomia institucional.

No mesmo dia em que foi deflagrada a operação batizada ‘Colosseum’, lia-se em manchetes a seguinte frase do ex-presidente Lula: "Isso sim é corrupção". Não, ele não se referia à suposta corrupção de Ciro no Castelão, mas sim à suposta corrupção do orçamento secreto, por meio da qual o presidente Bolsonaro teria comprado o apoio do Centrão.

A declaração de Lula em relação ao orçamento secreto visava minimizar o mensalão petista. Mas ambos foram esquemas armados para corromper parlamentares com o fito de submeter o Congresso Nacional. A existência de um não diminui a gravidade do outro.


Na sequência, Lula prestou solidariedade a Ciro, que a retribuiu imediatamente, afirmando nunca ter chamado Lula de ladrão: "Eu não acho que Lula seja um ladrão, eu nunca disse isso". Porém, está sobejamente registrado o que Ciro disse: "Lula é o maior corruptor da história moderna brasileira. O Lula apodrece onde ele bota a mão. Eu sei que ele é corrupto. Para além de ser corrupto, é um grande corruptor".

O termo "corrupção" é polissêmico, sendo seu significado mais comum o da roubalheira do dinheiro público; e quem rouba é ladrão. No contexto da fala de Ciro, o sentido é evidentemente este. Para que deixe de ser, será preciso corromper o sentido das palavras.

*Doutora em filosofia, pós-doutoranda em direito internacional e autora do livro 'Um Olhar Liberal Conservador sobre os Dias Atuais'

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