Folha de S. Paulo
A declaração de Lula em relação ao
orçamento secreto visava minimizar o mensalão petista
Ciro Gomes nega
envolvimento em esquema de corrupção na construção do estádio Castelão,
supostamente ocorrido entre 2010 e 2013 e que está sendo investigado pela
Polícia Federal desde 2017. Após a PF cumprir mandados de
busca e apreensão em endereços seus e do seu entorno, Ciro alegou
perseguição de Bolsonaro, a quem acusou de ter montado um estado policial.
É fato que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal —o que, aliás, foi
denunciado por Sergio Moro—
porém, o que efetivamente conseguiu de controle é incerto. Pelo que até agora
se sabe, a referida investigação da PF foi realizada no âmbito da sua autonomia
institucional.
No mesmo dia em que foi deflagrada a operação batizada ‘Colosseum’, lia-se em
manchetes a seguinte frase do ex-presidente Lula: "Isso sim é
corrupção". Não, ele não se referia à suposta corrupção de Ciro no
Castelão, mas sim à suposta corrupção do orçamento secreto, por meio da qual o
presidente Bolsonaro teria comprado o apoio do Centrão.
A declaração de Lula em relação ao orçamento secreto visava minimizar o
mensalão petista. Mas ambos foram esquemas armados para corromper parlamentares
com o fito de submeter o Congresso Nacional. A existência de um não diminui a
gravidade do outro.
Na sequência, Lula prestou solidariedade a Ciro, que a retribuiu imediatamente, afirmando nunca ter chamado Lula de ladrão: "Eu não acho que Lula seja um ladrão, eu nunca disse isso". Porém, está sobejamente registrado o que Ciro disse: "Lula é o maior corruptor da história moderna brasileira. O Lula apodrece onde ele bota a mão. Eu sei que ele é corrupto. Para além de ser corrupto, é um grande corruptor".
O termo "corrupção" é polissêmico, sendo seu significado mais comum o da roubalheira do dinheiro público; e quem rouba é ladrão. No contexto da fala de Ciro, o sentido é evidentemente este. Para que deixe de ser, será preciso corromper o sentido das palavras.
*Doutora em filosofia, pós-doutoranda em direito internacional e autora do livro 'Um Olhar Liberal Conservador sobre os Dias Atuais'
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