Folha de S. Paulo
Presidente deu uma banana para as
dificuldades enfrentadas pelos flagelados baianos
O ser humano é uma espécie supersticiosa,
amedrontada e infantil. Do suposto Criador ao presidente, voltamo-nos a todo
instante a figuras paternas em busca de sinais que aplaquem nossos temores e
indiquem o caminho a seguir. Embora as constituições não o explicitem, uma das
funções dos governantes é prover seus governados com clareza moral, confiança e
esperança. Isso pode gerar situações paradoxais.
Objetivamente, deslocar um presidente, com seu séquito de seguranças,
jornalistas e curiosos, para uma área de catástrofe mais atrapalha do que ajuda
o trabalho das equipes de resgate. Mas é obrigação do dirigente dar as caras. É
o que a população espera dele, e eventuais confusões que sua presença ocasione
tendem a ser compensadas pelo sentimento de união e propósito que ele
despertará.
Objetivamente, ninguém, incluindo
presidentes, deveria furar a fila da vacina, que precisa funcionar segundo o
princípio de que todos são iguais diante da lei. Não obstante, vários líderes
nacionais posaram para as câmaras tomando o imunizante tão logo ele foi
disponibilizado em seu país, mesmo que passando à frente de pessoas cuja
prioridade era mais alta. A ideia é que o líder deve dar o exemplo. Ao fazê-lo,
estimula as pessoas a se vacinarem, contribuição para o bem comum que supera o
prejuízo da furada de fila.
Jair
Bolsonaro deu uma banana para as dificuldades enfrentadas pelos
flagelados baianos e não apenas não se vacinou como tenta de diversas maneiras
sabotar a imunização. E poderíamos trazer dezenas de outros exemplos.
Bolsonaro não está à altura do cargo que ocupa. Ele descumpre tanto as
exigências constitucionais explícitas como as não escritas. É um feito e tanto,
porque, de um modo geral, é só seguir o "script" básico que o
inquilino do cargo já parece maior do que é. A Presidência já elevou figuras
medíocres, mas Bolsonaro consegue apequenar a função.
Bom ano a todos.
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