O Globo
O ano que vem pode ser pior, bem pior, se
muita coisa não mudar. Para melhor. Dentro e fora de nós
A última reflexão do ano é: já vai tarde.
Certamente um dos piores, senão o pior, ano de nossas vidas. Para o vovô e o
netinho, atravessando gerações que suportaram presidentes bêbados, tirânicos,
incompetentes, ladrões ou doentes mentais, e crises econômicas e políticas
quase permanentes. Brava gente brasileira.
Mas não adianta chorar pelo ódio derramado. O ano que vem pode ser pior, bem pior, se muita coisa não mudar. Para melhor. Dentro e fora de nós. Não é possível que uma minoria de 20% de fanáticos mande no destino de 210 milhões de brasileiros usando a mentira como método e os truques mais sujos para minar e destruir a democracia.
Ao estuprar o orçamento para dar aumento
para os policiais, Bolsonaro ganhou 45 mil votos. E perdeu 1 milhão, dos
funcionários públicos federais que o odiaram porque não tiveram o mesmo
benefício. Brilhante jogada de marketing político... de seus adversários.
O pior é que esses 45 mil eleitores
agradecidos estão armados pelo Estado e são pagos com os impostos da população
— para defendê-la. Mas talvez ele esteja pensando em juntar forças fiéis para
uma insurreição armada que o livre, e aos seus filhos, da cadeia...
Mas, apesar de tudo, estou esperançoso, não
por acaso tenho uma filha chamada Esperança. Só que nem ela aguentou o Brasil e
foi morar em Madri. Minha esperança brasileira é que o maior inimigo de
Bolsonaro é ele mesmo, especialista em tiros nos pés, nos quatro, em criar
inimigos, em mentiras e bravatas absurdas que o obrigam a voltar atrás com o
rabo entre as pernas, como quando o mito miou fino depois de seu surto golpista
de sete de setembro e teve que pedir ajuda a Temer para uma retratação
humilhante. “No calor do momento” ele pode querer fechar o Congresso ou o
Supremo. Mas aí não haverá carta que o salve do impeachment.
Paladino do combate à corrupção, está como
pinto no lixo no partido de um ex-presidiário e nas mãos de uma tropa, matilha,
quadrilha, que apoia qualquer governo, desde que sacie sua fome insaciável por
cargos e verbas públicas, mas não acompanham nenhum governo ao túmulo.
Bolsonaro desistiu de falar para 80% da população que ainda têm alguma
racionalidade além de suas necessidades urgentes de sobrevivência. Que Deus
tenha piedade de sua alma. Mas muito mais das nossas.
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Tempo perdido
Ser ofendido, dependendo por quem,
é elogio, prêmio, condecoração,
ou como um cão latindo ao longe.
Mas também há elogios,
que, conforme de onde vêm,
ofendem e comprometem,
nenhuma importância têm.
Então qual o prazer, a onda, a emoção,
de ser xingado e aplaudido,
em público, por desconhecidos,
qual o motivo, a razão, o sentido,
de tanto tempo perdido ?
E, no entanto, disputam uma curtida
como quem vai num prato de comida.
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