O Globo
Liberal não gosta de pobre? Pobre de
direita não deveria existir?
Essas são algumas ideias que foram
espalhadas por aí como verdadeiros mantras inquestionáveis em boa parte de
nossa sociedade.
Entendo que os questionamentos precisam ser
feitos e que necessitamos refletir melhor sobre o tema.
Primeiro, devemos observar quem são as pessoas que compõem as comunidades, o que elas querem e o que sentem. Nada melhor para chegar a esse tipo de conclusão do que efetivamente perguntar a elas. Afinal, elas têm o tal do “lugar de fala”. Em pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, essas respostas foram buscadas. O primeiro ponto interessante é que, pela rotina extremamente atribulada, as pessoas não ligam muito para rótulos de esquerda e direita — o que não é, de forma alguma, ruim. A pessoa que sai de casa às 6 horas da manhã e volta às 10 da noite tem como prioridade descansar para trabalhar no dia seguinte e manter a rotina, atrás do pão de cada dia.
Outro fator importante é que a sociedade
não se constrói na dicotomia entre ricos e pobres, empregados e empregador, mas
sim entre Estado e cidadãos, entre sociedade e seus governantes. O Estado cobra
muitos impostos, impõe muita burocracia, gerencia mal seus recursos e ainda impede
as pessoas de crescer, o que vai muito ao encontro do que pregava Milton
Friedman.
Dentro do aspecto psicossocial, as pessoas
das comunidades querem ter seu valor individual reconhecido. A tão criticada e
endeusada meritocracia também tem seu lugar, mas num espaço de razoabilidade,
onde se encontra com o acesso a oportunidades e com a necessidade de política
pública.
O que se pretende fazer quando se começa a
ascender socialmente? Procura-se comprar bens materiais melhores, bem como
obter um plano de saúde para sua família e uma escola particular para os
filhos.
O que podemos concluir a partir desse
recorte realizado?
Primeiro de tudo, é não ser intolerante com
o desejo legítimo das pessoas e respeitá-lo. Depois, é buscar alternativas que
possam contemplá-lo. É exatamente aí que entra a doutrina liberal.
Joaquim Nabuco uma vez disse: “Eduquem seus
filhos, eduquem-se a si mesmos, no amor da liberdade alheia”.
Quando falamos dessa corrente filosófica,
defendemos a possibilidade de uma pessoa ser o que, quando, como e onde quiser
— desde que isso não venha a prejudicar outras, obviamente.
E é basicamente o desejo de todos.
“Eu só queria ser gente” é uma frase
impactante, porque é a realidade de milhões de pessoas espalhadas pelo país.
Este é o grande desafio que o Brasil
enfrenta: como ter um discurso que contemple essa camada significativa da
população, que possa se tornar práticas a ponto de encerrar, de uma vez por
todas, esse ciclo vicioso que destrói nossas potencialidades e nossa
existência?
Resgatar a preocupação real em desenhar
novos e melhores horizontes para todos é boa parte da responsabilidade de quem
se identifica como um liberal.
É preciso encurtar as distâncias
artificialmente implantadas ao longo do tempo e construir um verdadeiro
liberalismo popular.
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