É chegado o Natal e, hoje, o dia escolhido
pelo meu neto para a arrumação da árvore de Natal, da exposição do presépio, de
colocar o Papai Noel na porta anunciando aos que chegam que festejamos o
nascimento de Jesus, para os cristãos.
Para uma parte da população no mundo, essa
data não é celebrada. Para os cristãos, a história que foi contada pelos
apóstolos foi um marco na instituição do cristianismo, o que aconteceu num
momento de grande disputa pelos territórios no mundo ocidental, com a expansão
do domínio do Império Romano, há mais de dois mil anos.
O Natal celebra a data do nascimento de
Jesus Cristo, que veio ao mundo para nos trazer a verdade e nos salvar dos
nossos pecados. É o que diz a bíblia, um dia especial para o cristianismo, um
momento de exaltação da união e do amor ao próximo.
Para muitos, Jesus, o salvador, é uma
lenda. Para outros, um revolucionário que assumia, naquela época, as
insatisfações de um povo explorado nas áreas da Cisjordânia e parte do Oriente
Médio.
O certo é que a festa de Natal, antes religiosa, vem se tornando uma festa cultural e consumista em que os meios de produção e o comércio se programam para vender mais, atrair cada vez mais os consumidores com vistas à obtenção de grandes lucros.
Também os trabalhadores são atraídos por
melhores postos de trabalho e por melhores salários, fruto das comissões pela
venda de produtos. Mas, não podemos deixar de reconhecer que essa festa envolve
a todos com um clima que para muitos traz conforto, nostalgia, esperança e
alegria. No Natal as pessoas ficam mais emotivas, querem fazer o bem, alguns se
arrependem das maldades praticadas, outras renovam votos de amor eterno.
Nunca me esqueço de um processo que chegou
às minhas mãos para avaliação quando eu era membro do Conselho Estadual de Educação.
Constava que uma criança de 8 anos havia sido reprovada na prova final de
redação porque foi muito sucinta ao elaborar o texto. O enunciado era: o que
acontece no dia de Natal? E a criança respondeu “a comemoração do nascimento de
jesus”. Na verdade, a professora esperava uma descrição sobre os festejos, os
parques instalados nas praças, os presentes recebidos.
A criança teve de trocar de
escola, para se livrar da reprovação.
Também no Natal se pratica a solidariedade.
Geralmente os que têm um pouco mais se compadecem dos que nada têm e oferecem
cestas básicas. Os que têm muito, muito mais, dizem que já são responsáveis
pela oferta de emprego, como se não entendessem que empregos são responsáveis
pela grande parte da produção de suas riquezas.
Mas o que preocupa neste Natal é o caminho
que o país está tomando com muita celeridade, uma trajetória há algum tempo não
pensada.
Após a ditadura – 1964/1985 – pensávamos
que construiríamos uma democracia sólida, com respeito a todos e sobretudo com
a garantia dos espaços de sobrevivência digna.
Temos assistido passivamente a um processo
político que vem prosperando como uma verdadeira avalanche de projetos
indecentes que tentam demolir as políticas públicas e o Estado de Direito.
A economia já vem cambaleante há algum
tempo.
“Quando a economia apresenta dois
trimestres seguidos de contração do nível de atividade econômica isso define
uma recessão técnica. Se fizermos uma comparação internacional, veremos que o
Brasil teve um dos piores desempenhos entre as economias do mundo no terceiro
trimestre de 2021. Então, isso não é consequência da pandemia. A performance da
economia brasileira a partir do segundo trimestre de 2021 é absolutamente
compatível com as escolhas de política econômica que o governo Bolsonaro fez”,
afirma o professor da UnB, Universidade de Brasília.
Essa informação, acompanhada do descrédito
sobre a possibilidade de crescimento da economia, só nos faz lembrar que
atualmente mais de 116,8 milhões de pessoas no país se encontram em situação de
insegurança alimentar, os seja, essas pessoas não têm alimentos suficientes
para a sua alimentação e para a manutenção de sua saúde.
Dentre essas, 19 milhões se
encontram em situação de pobreza absoluta, não têm o que comer, vivem em
palafitas, barracos de papelão, moram na rua, embaixo de pontes e viadutos.
Geralmente são mulheres, solteiras, avós, tias, acompanhadas de crianças,
filhos, sobrinhos e netos, sem roupas, desnutridos e em algumas situações sob a
influência do tráfico de drogas.
Nos altos escalões do país, Executivo e
Parlamento trabalham incessantemente para se chegar a essa situação, com o
desmonte das políticas públicas. O Programa Bolsa Família foi encerrado e
substituído pelo auxílio de Bolsonaro que terá a duração até 31 de dezembro de
2022, data em que encerra o seu mandato.
Parte do orçamento da união agora é secreto
com o voto do parlamento, inclusive alguns parlamentares que se intitulam de
esquerda. A população não pode ter conhecimento sobre para onde vão os recursos
das emendas parlamentares sob coordenação de deputados e senadores, que votam a
favor das propostas do governo federal.
Entendo que além de vergonhoso, atenta
contra o direito de monitorar e fiscalizar o dinheiro público, que tem origem
nos tributos pagos pela população, ou seja, é parte do trabalho de todos.
E a tão propagada PEC dos Precatórios na verdade busca a manipulação de
recursos para dar sustentação ao processo eleitoral de 2022.
Não há emprego para todos, o desemprego
atinge 14,8 milhões de pessoas (Pnad).
Uma pesquisa do SIS (Síntese dos
Indicadores Sociais), indica que são utilizados múltiplos indicadores para
avaliação da pobreza. No entanto, o que se observa é que a maioria dos
pobres no Brasil é de mulheres, negros e pessoas com pouca instrução, sendo que
as mulheres e pobres representam 28% da população total.
Além disso, a concentração dos pobres se
encontra nas regiões Norte e Nordeste, onde figuram o Maranhão, Pernambuco e
Alagoas com maiores percentuais de pobres.
Grande é a movimentação de candidatos à presidência
da República. No entanto, não há propostas na pauta das discussões, dos acordos
políticos, que evidenciem caminhos para a correção dos rumos da economia e
da reconstrução das políticas públicas com foco na vida e necessidades da
maioria da população.
É evidente também que há uma distância
muito grande entre a população – que de qualquer forma busca resolver os seus
problemas, nas filas por vagas de trabalho, dos hospitais e nas unidades
básicas de saúde, dos postos onde se registram no cadastro único – e o que
pensa o mundo da política.
A política, o Parlamento, as câmaras de
vereadores, governos que, eleitos para representar o povo, falam uma linguagem
diferente. Os consensos construídos são mínimos e pouco exequíveis.
Sendo o Natal um tempo de
esperança, que se elevem os espíritos e a capacidade de vigilância sobre o que
acontece no país.
*Mirtes Cordeiro é pedagoga.
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