Folha de S. Paulo
Só ao presidente interessa que o Brasil não
exija certificado de vacinação de viajantes
"De novo, porra? De novo vai começar
esse negócio?" Num encontro com empresários nesta terça (7), Jair
Bolsonaro, com sua habitual elegância, questionou e distorceu recomendações da
Anvisa sobre as medidas para conter o avanço da variante
ômicron. Peço licença ao leitor, mas, de novo, porra? O brasileiro não tem
um dia de sossego. De novo, essa anta vai ignorar as notas técnicas do órgão
regulador e agir de acordo com a central de notícias do Zap?
O país começa a colocar o nariz para fora
do lamaçal, temos condições de nos preparar para que novas variantes não nos
devolvam a um patamar pandêmico trágico. As restrições que a Anvisa sugere são
de certa forma simples, se comparadas ao "fique em casa" que já
vivemos. Banir passageiros de 10 países africanos, adoção do passaporte da
vacina ou quarentena de cinco dias mais testagem.
Tranquilo? Claro que não. De novo, Bolsonaro voltou à carga com mais mentiras sobre a eficiência da vacina, a mesma ladainha sobre imunidade de rebanho, outro anúncio leviano sobre o fim da pandemia, a mesma atitude autocrata e o desdém pela ciência e seus profissionais.
Ao fim do mesmo dia, uma vitória da Anvisa:
o governo anunciou que vai exigir quarentena dos não vacinados. A questão é
que, ao se colocar contra as medidas recomendadas pela agência, Bolsonaro
assume novamente a responsabilidade de colocar em risco a população, da mesma
forma que fez em 2020 quando recusou a compra de vacinas. A CPI
da Covid parece
não ter servido para nada.
Então, a quem interessa que o Brasil não
exija certificado de vacinação de viajantes? Ora, bolas, a Jair Bolsonaro, que
compara a medida a uma coleira e gosta de alardear que não foi imunizado. Se
concorda com um decreto dessa natureza, estará sujeito às regras. Agora, ao
retornar de uma viagem internacional, ficará de castigo por cinco dias. De
preferência com uma coleira e uma focinheira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário