Partidos insistem em seus candidatos, apontando dificuldade de aliança duradoura com o PSDB e estagnação do governador
Carolina Linhares / Folha de
S. Paulo
SÃO PAULO - Na mesma semana em
que o presidenciável João Doria (PSDB) acenou
aos seus concorrentes na chamada terceira via em busca de uma
candidatura única, partidos desse campo anunciaram conversas para federações.
Os apoios que o tucano espera receber, no entanto, dependem dessas tratativas e
esbarram em sua alta rejeição.
No último domingo, em uma live
promovida por um grupo de empresários, Doria falou em construir uma
única candidatura, citando os nomes de Sergio Moro
(Podemos), Simone
Tebet (MDB), Alessandro
Vieira (Cidadania) e Rodrigo
Pacheco (PSD).
Aliados de Doria acreditam que ele seria
esse candidato principal e apostam no crescimento de seu nome conforme a
campanha avance. Mas, se o governador paulista não conseguir capitalizar em
cima da vacinação e de outras vitrines, tucanos
veem chances de o partido desistir de lançá-lo.
A possibilidade de ampliar a bancada, de
contar com um tempo significativo de TV, a proximidade ideológica e a boa
relação de Doria com líderes das demais siglas são pontos apontados como
atrativos para uma aliança com o tucano.
"Isso só vai se materializar
provavelmente entre o final de junho e o início de julho", completou
Doria a respeito das alianças em coligações majoritárias.
Mas o debate sobre federações atravessou na frente, já que a data para sua formalização é 2 de abril –a não ser que o STF (Supremo Tribunal Federal) amplie o prazo em julgamento sobre o tema previsto para quarta-feira (9).
O PSDB de Doria já tornou públicas as
negociações para a formação de uma federação
com o Cidadania, de Vieira, e com o MDB, de Tebet.
Em paralelo, o
MDB também ensaia uma federação com a União Brasil, partido
formado por PSL e DEM e que não tem presidenciável próprio –cujo apoio também é
cobiçado pelos tucanos.
Membros dos partidos da terceira via
consultados pela Folha afirmam
que as conversas sobre coligações andam a passos lentos e devem se intensificar
em junho, já
que o momento é o de discutir federações.
O presidente do PSDB e coordenador da
campanha de Doria, Bruno Araújo, afirma que não concentrar as candidaturas da
terceira via significa
consolidar a polarização. "A pauta agora é a das federações. As
coligações serão discutidas mais para frente, nada acontecerá antes de
junho".
Em ambas as modalidades, porém, Doria
enfrenta obstáculos para se consolidar como a candidatura única da terceira via
segundo representantes das siglas citadas por ele.
No caso das federações, que
exigem das siglas envolvidas a atuação conjunta por quatro anos, inclusive nas
eleições municipais de 2024, os entraves para o PSDB são os mesmos
de todas as legendas, sobretudo das maiores: aplacar disputas regionais para
chegar a candidatos únicos nos estados e cidades, além de traçar um programa
comum.
Tucanos e emedebistas do alto clero admitem
que a
federação entre os partidos tem poucas chances de prosperar. O mais
esperado é que se consolide o acerto entre PSDB e Cidadania, o que na prática
obrigaria Vieira a retirar sua candidatura, embora isso não seja admitido de
cara pelo partido.
"Defendo um processo de concentração
de forças no centro democrático, mas dentro de uma construção de projeto
nacional, sem imposição de nomes ou atropelos. Mais adiante é preciso um gesto
daqueles que não se veem viáveis", declara Vieira.
O presidente do Cidadania, Roberto Freire,
diz saudar a fala de Doria a favor de unidade. "Seria importante para o
país e para a democracia. Em junho vamos analisar o quadro e isso vai ter que
ser decidido", afirma.
Na última
pesquisa Datafolha, divulgada em dezembro, Vieira não pontuou, enquanto
Doria chegou a 3%.
Para atrair os demais –Moro (9%), Tebet
(1%) e Pacheco (1%)— restaria ao tucano realizar coligações, mas
nesse caso sua alta rejeição se torna uma objeção, embora haja
concordância entre esses partidos sobre as vantagens de uma candidatura única.
De acordo com a leitura de líderes dessas
legendas, evitar a fragmentação é o caminho para tentar chegar ao segundo turno
num cenário em que o
ex-presidente Lula (PT) marca 47% e o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem 21%.
Por isso, o aceno de Doria foi bem-visto em
todos os partidos, que ressaltam a necessidade de abertura para o diálogo –algo
que o tucano vem demonstrando. Na prática, porém, membros da campanha de Doria
afirmam haver conversas com MDB, Cidadania e União Brasil, enquanto Podemos e
PSD estariam em polos mais distantes.
Aliados de Doria admitem que o cenário mais
provável é o de fragmentação, com
ao menos Doria e Moro concorrendo na terceira via. Dado que o ex-juiz
está à frente nas pesquisas, tucanos não veem como atraí-lo e muito menos o
Podemos está disposto a abrir mão em prol do governador.
Só haveria um caminho, segundo o entorno de
Doria, se Moro desistisse da corrida ao Planalto para se candidatar ao
Congresso, garantindo ao menos algum cargo diante da vitória incerta no plano
nacional. Então, o Podemos poderia migrar para a campanha tucana.
O clima entre Doria e Moro segue cordial.
Na quarta (2), o
ex-juiz evitou criticar o governador durante um evento em São
Paulo.
O senador Álvaro Dias (Podemos-PR) afirma
que o aceno de Doria contribui para a convergência. "Mas isso tem que
respeitar quem tem viabilidade maior. Não há uma pesquisa que não coloque Moro
como o mais viável", pontua.
Ainda na visão de estrategistas de
Doria, o
PSD está mais próximo de um acerto com Lula do que com a terceira via.
O presidente da sigla, Gilberto Kassab, afirma que seu partido não deve fazer
federações ou coligações e que terá candidatura própria.
"Nosso candidato é o Pacheco",
afirma. O partido fará em março uma avaliação sobre a viabilidade de Pacheco e
já buscou um plano B, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB),
que perdeu as prévias tucanas para Doria.
Caso Doria suba nas pesquisas, a campanha
tucana acha possível consolidar os apoios de União Brasil e MDB –sobretudo
desse último, mesmo
se a federação não vingar.
Doria é próximo do presidente do MDB,
Baleia Rossi, e Tebet
é vista como a vice ideal para o governador paulista, que já indicou
buscar uma mulher para sua chapa.
No MDB, o discurso oficial é o de
manutenção da candidatura de Tebet, enquanto membros do partido veem a aliança
com Doria problemática diante da baixa intenção de votos do tucano. A aposta é
a de que a senadora pode crescer, enquanto o governador não.
Baleia afirma esperar que Tebet
seja a candidata que consiga agregar os demais. "Estamos
trabalhando no fortalecimento da Simone, estamos buscando parcerias, nossa vaga
de vice está em aberto", diz.
Membros da União Brasil afirmam que os
dirigentes da legenda não cogitam apoiar Doria devido a sua estagnação, e
oscilam entre compor com Moro ou manter a neutralidade. Outra opção é a união
com Tebet, na
possibilidade remota de a federação prosperar.
Já o candidato de Doria ao Governo de São
Paulo, seu
vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), tem sido mais bem-sucedido em atrair
alianças –incluindo União Brasil e MDB, que separaram o apoio a
Garcia de uma coligação com Doria.
A base tucana no estado inclui ainda o
Cidadania e até prefeitos
e parlamentares do Podemos, partido que lançará Arthur do Val para
o Palácio dos Bandeirantes. Mesmo partidos do centrão de Bolsonaro são aliados
de Garcia em São Paulo.
Aliados de Doria afirmam que isso se deve à diferença de conjuntura nacional e estadual e não à capacidade do titular e do vice. Alguns tucanos admitem, porém, que Garcia não é rejeitado, enquanto Doria caminha para o isolamento, com pesquisas indicando perspectivas ruins.
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