O Globo
Bolsonaro e o Congresso querem subsídios,
Lula fala em acabar com a paridade internacional. Outros candidatos dizem que a
solução é a privatização da Petrobras.
A disparada dos preços dos combustíveis tem
levado o país a um debate sem sentido. Bolsonaro e o Congresso querem subsídio
a qualquer preço. Lula, que lidera as pesquisas, fala em acabar com a paridade
internacional. Outros candidatos dizem que a solução é a privatização da
Petrobras. De um jeito ou de outro, as propostas terão pouco ou nenhum efeito,
avalia o engenheiro David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP. Para ele, o
Brasil deveria estar empenhado em melhorar a qualidade do transporte público,
com investimentos pesados em infraestrutura e logística que reduzam custos e
melhorem a qualidade de vida da população. Subsídios, só se forem cirúrgicos,
destinados a quem mais precisa.
— Existe um fetiche nacional pelo preço dos combustíveis. Mas a gasolina e o diesel são commodities, assim como a carne, o trigo, a soja. As pessoas estão comprando osso e passando fome no Brasil, e vamos gastar bilhões de reais para subsidiar a gasolina de quem tem carro? — questiona.
Zylbersztajn avalia que nenhuma das
propostas ventiladas até agora, seja no governo, no Congresso ou por candidatos
da oposição, terão efeitos duradouros. A conta dos subsídios é impagável e pode
apenas atender a interesses eleitorais de Bolsonaro e de políticos do centrão.
Nenhum governo conseguirá gastar de R$ 50 bi a R$ 100 bilhões por ano sem
desequilibrar suas contas. Lula fala em acabar com a paridade internacional de
preços, o que na prática significa minar o caixa da Petrobras. Haverá fuga de
acionistas, redução de investimentos, aumento de dívida e, em última instância,
a necessidade de a empresa ser socorrida pelo Tesouro.
— Alguém vai ter que pagar a conta e acho
que, quando perceberem o volume de dinheiro que será gasto, para a pouca
redução nas bombas, as pessoas vão acordar. Temer gastou mais de R$ 10 bilhões
para subsidiar o diesel após a greve dos caminhoneiros. Esse dinheiro
literalmente virou fumaça — afirma Zylbersztajn.
Morador do Rio, o ex-diretor da ANP se diz
especialmente tocado pelo aumento da pobreza e da população de rua nas grandes
cidades. Por isso, está convicto de que o país tem outras prioridades e defende
que qualquer tipo de subsídio aconteça de forma localizada, com ênfase no
transporte público, e não de forma linear, que beneficie também os mais ricos.
— Se for para subsidiar, que seja o
vale-transporte da baixa renda, por exemplo. Tem gente andando a pé até o
trabalho porque não tem dinheiro para passagem. É ele que precisa de ajuda da
sociedade — diz.
Enquanto o mundo discute formas de reduzir
as emissões de carbono, o Brasil continua sem planos efetivos de infraestrutura
e políticos de todos os campos ideológicos pensam em formas de baratear os
combustíveis fósseis.
Sem autossuficiência
O setor de combustíveis acumulou déficit de
US$ 125 bilhões na balança comercial nos últimos 25 anos. Essa é a diferença
entre o que o Brasil exportou e importou de derivados de petróleo, entre 1997 e
2021, desde o início da série histórica. No ano passado, foram US$ 6,1 bi no
vermelho, resultado US$ 7,2 bilhões de exportação e US$ 13,4 bilhões de
importação. Os dados mostram que o Brasil nunca foi autossuficiente na produção
de combustíveis e a estratégia de construir refinarias só dará certo se o país
seguir os preços internacionais. Do contrário, ninguém terá interesse em
produzir derivados para vender no país a um preço mais baixo.
Contraste no emprego
Dados de desemprego que saíram nos EUA e na
zona do euro mostram o contraste em relação ao Brasil. Se por aqui a taxa de
desemprego permanece em dois dígitos, na casa dos 12%, na Europa, caiu a 7%, o
menor número da série, e nos EUA se manteve em 4%. A melhora do mercado de
trabalho é um dos motivos para o Fed e o BCE pensarem em subir juros porque já
há pressões sobre os salários. Por aqui, o BC elevou a Selic a 10,75%, mesmo
com a queda na renda.
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