O Estado de S. Paulo.
O mais provável é cumprir com o que já foi sinalizado, mas dizer que vai prolongar o aperto
Eis o tamanho da encrenca que o Copom terá
de enfrentar na sua reunião hoje: a média dos núcleos da inflação, que excluem
os preços mais voláteis, como alimentos e combustíveis, deu outro salto de
janeiro para fevereiro, avançando de 0,87% para uma alta ao redor de 1%, mesmo
com o aperto monetário em curso já há um ano e com a taxa Selic em dois
dígitos. Na taxa anual, de 8,4% no mês passado, a média dos núcleos sobe por 18
meses consecutivos.
Com a alta de preços se disseminando por mais produtos e serviços no IPCA, a inflação alta está se tornando cada vez mais resiliente. E os efeitos secundários do choque adverso de oferta, agravados agora pela guerra na Ucrânia, devem continuar empurrando para cima as expectativas inflacionárias.
Na última pesquisa Focus, a projeção para o
IPCA em 2022 subiu impressionante 0,80 ponto porcentual em apenas uma semana,
para 6,45%, bem acima do teto da meta (de 5%). Já há analistas prevendo que a
inflação deste ano poderá ficar entre 7% e 8%. Para 2023, conforme a Focus, a
estimativa passou de 3,51% para 3,70%, enquanto o centro da meta é de 3,25%.
Qual será, então, a estratégia escolhida
pelo Copom à luz das renovadas pressões inflacionárias?
O Copom já sinalizou que irá reduzir o
ritmo de alta de juros, de 1,5 ponto porcentual, no seu último encontro em
janeiro. O mercado aposta majoritariamente em um aumento da taxa Selic em 1
ponto na decisão de hoje, para 11,75%. Como o aperto monetário já está bem
avançado, o Copom poderia se dar ao luxo de desacelerar o ritmo de alta de
juros para avaliar melhor seu impacto sobre as expectativas inflacionárias e a
atividade econômica.
O problema é que, de janeiro para cá, o
mundo mudou. A guerra na Ucrânia elevou consideravelmente o custo dos insumos
ao redor do mundo, com impacto significativo na inflação. E, no Brasil, as
expectativas inflacionárias estão saindo do controle e se distanciando cada vez
mais das metas.
Caso não tivesse sido tão precipitado em se
comprometer com a redução no ritmo de alta de juros, o Copom poderia manter a
velocidade do aperto em 1,5 ponto, ao menos por mais uma reunião, diante dessa
piora na inflação e nas expectativas.
O mais provável, porém, é o Copom cumprir
com o que já foi sinalizado, mas dizer que vai prolongar o aperto e manter os
juros num patamar mais alto pelo tempo necessário para fazer convergir a
inflação à meta no horizonte relevante da política monetária, o que,
provavelmente, levaria a Selic para entre 13% e 13,5%. É uma fatura salgada,
mas há outra saída?
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