Folha de S. Paulo
Lula olha também para a governabilidade a
partir de 2023
Se há algo que Luiz
Inácio Lula da Silva sabe fazer, é política. E ele vem jogando bem.
Está de olho não só na vitória eleitoral em outubro (pré-requisito para
qualquer outra coisa) mas também na governabilidade a partir de 2023. Por isso,
vem trabalhando para ampliar tanto quanto possível seu arco de alianças. Mira
não só a esquerda, que já ganharia por gravitação, mas também o centro e a
direita republicanos.
É nessa conjuntura que convidou o ex-tucano Geraldo Alckmin para ser seu vice, mantém conversações com Gilberto Kassab e vai distribuindo agrados a evangélicos. Para os que, como eu, ainda acreditam que a laicidade do Estado é um valor, dói ver o PT emprestando apoio ao projeto de lei que quer proibir o uso da palavra "bíblia" "fora de contexto". A arte da política, porém, consiste justamente em trocar posições em questões consideradas menos urgentes por apoio para os objetivos tidos como estratégicos.
Lula sabe que, se vencer, enfrentará uma
situação fiscal bem mais difícil do que a que encontrou em 2003. Pior, assumirá
uma Presidência com menos poderes do que a que apanhou 20 anos atrás. Sabe
também que precisará do centrão. No sistema brasileiro, um partido que vá muito
bem na eleição proporcional consegue obter pouco mais de 15% das cadeiras na
Câmara. Isso significa que não há como não fazer alianças, permanentes e circunstanciais.
Mas há graus e graus de dependência. Uma coisa é precisar do centrão para
votações difíceis, como emendas constitucionais, outra é tornar-se refém do
grupo até para respirar, como é o caso de Jair Bolsonaro.
Não sei se Lula terá sucesso em seus
planos, que dependem do comportamento de outros agentes políticos e do eleitor.
Mas dá para ver que há uma estratégia pensada. Enquanto isso, Bolsonaro vai
apenas reagindo a acontecimentos e a dificuldades que ele próprio criou. Também
inventa factoides, como a censura à Netflix
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