Folha de S. Paulo
Bolsonaristas ficam pendurados em agenda
moral para compensar um déficit de realizações do governo
Na ausência de alvos fáceis, o bolsonarismo
costuma recauchutar polêmicas do passado. Desta vez, o Ministério da Justiça
fez uma jogada ensaiada com políticos conservadores e proibiu
a exibição de um filme de 2017. A manobra expõe um governo que depende da
mesma guerra cultural que Jair Bolsonaro explorou para chegar ao poder.
Ninguém tentou esconder que a censura seria usada como arma política. No fim de semana, aliados de Bolsonaro denunciaram uma cena de "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola" em que o vilão pede que duas crianças o masturbem. O secretário da Cultura, Mario Frias, entrou na campanha e prometeu agir contra o que chamou de afronta às famílias.
Sem ferramentas legais para proibir a exibição,
o ministro da Justiça citou o Código de Defesa do Consumidor e determinou a
suspensão do filme em serviços de streaming como forma de "proteção à
criança e ao adolescente consumerista".
Foi uma espécie de contorcionismo para
atender ao protesto dos bolsonaristas. Segundo o ex-ministro Torquato Jardim,
decidir se um filme pode ser exibido não é competência da pasta. "Se a
cena é ofensiva, é preciso procurar o Judiciário, que é quem decide se aquele é
um conteúdo abusivo", afirma.
A canetada faz parte da encenação. Assim
como em outras ocasiões, Bolsonaro busca se apresentar ao eleitorado
conservador como uma autoridade capaz de atuar fora das regras do jogo para
enfrentar o que esse grupo trata como ameaça.
O presidente trabalha para manter
seu favoritismo no segmento e conter o avanço de políticos
interessados na retórica de defesa da família. Um de seus concorrentes nesse
campo é Sergio Moro –que foi ministro da Justiça e é apoiado por Danilo
Gentili, criador do filme proibido.
A blitz bolsonarista sugere que o
conservadorismo moral será uma ferramenta recorrente no ano de eleição. O
presidente continua pendurado nessa agenda para aglutinar parte de sua base e
compensar um déficit de realizações do governo.
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