sábado, 26 de março de 2022

João Gabriel de Lima*: Para evitar a destruição do futuro


O Estado de S. Paulo.

Movimentos como o Sunrise não se limitam a protestar. Pautam discussões e influenciam leis

Eles se hospedam em Airbnbs e se movem nos corredores do Capitólio. Inspiram-se no passado – o movimento dos direitos civis – e usam ferramentas do presente: bancos de dados, aplicativos e redes sociais. Em reportagem recente, a revista The New Yorker saudou o movimento Sunrise, formado por jovens ativistas, como o novo padrão de ambientalismo na era digital.

Nada pode ser mais danoso à democracia que o sentimento de que todos os políticos são mentirosos e eleições não servem para nada, conforme observou o jornalista Eugênio Bucci em artigo publicado nesta semana no Estadão. Movimentos como o Sunrise valorizam a prática democrática. Eles não se limitam a protestar e angariar adeptos. Buscam aliados entre os representantes eleitos, pautam discussões no Congresso e influenciam leis.

No mundo inteiro, os jovens estão na vanguarda da luta ambiental. Eles sabem que um presente com enchentes e secas é prenúncio de um futuro com escassez de alimentos e desastres naturais – futuro que não querem para suas vidas. Foram os jovens alemães que levaram o Partido Verde a uma votação expressiva nas últimas eleições. Na COP26, em Glasgow, os jovens brasileiros foram estrelas do pavilhão da sociedade civil em defesa da Amazônia.

“Cabe à sociedade civil fiscalizar os poderes para que as leis promovam o bem de muitos, e não o interesse de poucos”, diz

Mariana Mota, coordenadora de políticas públicas do Greenpeace Brasil. Ela é a entrevistada no minipodcast da semana.

Entidades como o Greenpeace observam de perto a “agenda verde” que estará na pauta do Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira, dia 30.

Na ocasião, serão julgadas sete ações de autoria de vários partidos políticos. A sociedade civil – academia e movimentos, incluindo o Greenpeace – colaborou com estudos e dados. Um tema perpassa as ações: a retomada da fiscalização ambiental, reduzida a níveis mínimos no governo Bolsonaro. Nesta semana, vários ex-ministros do Meio Ambiente – de Sarney Filho a Carlos Minc – estiveram com Luiz Fux, presidente do STF, e Cármen Lúcia, relatora de seis das sete ações.

Toda atenção é pouca, pois se trata de um jogo em que todos perdem. Com os recordes de desmatamento, a imagem do Brasil se deteriora, os lobbies europeus ganham um argumento contra o agronegócio nacional e nossa produção de alimentos diminui com as secas e demais danos causados pela mudança climática.

Ninguém, no entanto, perde mais que os jovens, que sofrem com a destruição de seu próprio futuro. No Sunrise ou nos movimentos brasileiros, faz sentido que eles liderem o combate à maior ameaça de nossa época.

*Escritor, professor da Faap e doutorando em ciência política na Universidade de Lisboa

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