Movimentos como o Sunrise não se limitam a protestar. Pautam discussões e influenciam leis
Eles se hospedam em Airbnbs e se movem nos
corredores do Capitólio. Inspiram-se no passado – o movimento dos direitos
civis – e usam ferramentas do presente: bancos de dados, aplicativos e redes
sociais. Em reportagem recente, a revista The New Yorker saudou o movimento
Sunrise, formado por jovens ativistas, como o novo padrão de ambientalismo na
era digital.
Nada pode ser mais danoso à democracia que o sentimento de que todos os políticos são mentirosos e eleições não servem para nada, conforme observou o jornalista Eugênio Bucci em artigo publicado nesta semana no Estadão. Movimentos como o Sunrise valorizam a prática democrática. Eles não se limitam a protestar e angariar adeptos. Buscam aliados entre os representantes eleitos, pautam discussões no Congresso e influenciam leis.
No mundo inteiro, os jovens estão na
vanguarda da luta ambiental. Eles sabem que um presente com enchentes e secas é
prenúncio de um futuro com escassez de alimentos e desastres naturais – futuro
que não querem para suas vidas. Foram os jovens alemães que levaram o Partido
Verde a uma votação expressiva nas últimas eleições. Na COP26, em Glasgow, os
jovens brasileiros foram estrelas do pavilhão da sociedade civil em defesa da
Amazônia.
“Cabe à sociedade civil fiscalizar os
poderes para que as leis promovam o bem de muitos, e não o interesse de
poucos”, diz
Mariana Mota, coordenadora de políticas
públicas do Greenpeace Brasil. Ela é a entrevistada no minipodcast da semana.
Entidades como o Greenpeace observam de
perto a “agenda verde” que estará na pauta do Supremo Tribunal Federal nesta
quarta-feira, dia 30.
Na ocasião, serão julgadas sete ações de
autoria de vários partidos políticos. A sociedade civil – academia e
movimentos, incluindo o Greenpeace – colaborou com estudos e dados. Um tema perpassa
as ações: a retomada da fiscalização ambiental, reduzida a níveis mínimos no
governo Bolsonaro. Nesta semana, vários ex-ministros do Meio Ambiente – de
Sarney Filho a Carlos Minc – estiveram com Luiz Fux, presidente do STF, e
Cármen Lúcia, relatora de seis das sete ações.
Toda atenção é pouca, pois se trata de um
jogo em que todos perdem. Com os recordes de desmatamento, a imagem do Brasil
se deteriora, os lobbies europeus ganham um argumento contra o agronegócio
nacional e nossa produção de alimentos diminui com as secas e demais danos
causados pela mudança climática.
Ninguém, no entanto, perde mais que os
jovens, que sofrem com a destruição de seu próprio futuro. No Sunrise ou nos
movimentos brasileiros, faz sentido que eles liderem o combate à maior ameaça
de nossa época.
*Escritor, professor da Faap e doutorando
em ciência política na Universidade de Lisboa
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