O Globo
O presidente Vladimir Putin está perdendo
a guerra. Não há mais bom cenário para ele. O domínio do
território da Ucrânia ocorrerá unicamente pela desproporção de forças, mas ele
não conquistará a Ucrânia. O PIB do país que governa vai despencar numa
recessão que é ainda difícil de calcular, o dólar subiu 40%, medidas são
tomadas pelo Banco Central para conter a fuga de divisas. Um rublo vale menos
que um centavo de dólar. Nos últimos sete dias houve uma brutal destruição da
riqueza russa. A bolsa ficou fechada, mas em Londres as empresas russas viraram
pó. A ação do banco Sverbank estava cotada a US$ 15, vale agora US$ 0,02. E seu
braço europeu decretou falência. Os títulos do país são classificados como lixo
e não encontram comprador. Putin governa um país sitiado econômica e
financeiramente.
O projeto inicial de Putin fracassou. Ele achou que seria um passeio, um desfile militar até Kiyv. E encontrou pela frente o espírito humano. A força e a capacidade de luta dos ucranianos não se explicam nos manuais militares. Essa foi a primeira derrota de Putin. O domínio final será pelo esmagamento, seus tanques andarão sobre escombros. Que vitória será essa?
Nos seus planos de guerra estava a ideia de
que bastava ameaçar com “consequências jamais vistas” que o Ocidente nada mais
faria além dos discursos retóricos de sempre. Essa foi sua segunda derrota. No
domingo, diante das primeiras sanções, Putin fez a reunião teatral com seu
ministro da Defesa ordenando colocar em prontidão as forças especiais que lidam
com arsenal nuclear. Iniciou assim a sua terceira derrota, porque a partir
daquele momento o Ocidente se uniu de maneira incomum e disparou a mais
poderosa arma financeira já usada contra uma economia.
Ontem a governadora do Banco Central russo
definiu a situação como “extrema”. A moeda está no vazio. Calcula-se que os
russos já sacaram US$ 15 bilhões. As empresas exportadoras são obrigadas a
entregar 80% dos dólares ao governo. Mas a dúvida é se essas divisas entrarão
no país, dado que o comércio está parando. As grandes empresas e marcas estão
promovendo um verdadeiro banimento do mercado russo dos seus negócios. A lista
é enorme e não caberia neste espaço, mas envolvem companhias como Apple,
Disney, Adidas, Shell, BP, Exxon, Equinor, Airbus, Boeing, Visa, Mastercard,
Volvo, General Motors, Microsoft. Inúmeras. Por pressão dos consumidores e sob
risco reputacional, as companhias preferem perder dinheiro a manter os laços
com a economia russa. Laços que foram construídos em mais de 30 anos.
A desvalorização do rublo levará a uma
forte queda do poder de compra e o consumo responde por 50% do PIB. Empresas
começam a quebrar. Haverá uma completa desorganização da cadeia produtiva. O
setor de serviços também será afetado, principalmente o de softwares e alta
tecnologia, o que irá diminuir a produtividade no país. Aviões russos já não podem
voar para outros países, os navios não serão aceitos nos portos. Das finanças à
indústria, dos serviços ao entretenimento, da agricultura ao esporte, tudo está
sendo bloqueado.
A Rússia exporta perto de 8% do petróleo do
mundo, e, apesar de as sanções não terem atingido o setor de energia do país, a
Gazprom teve dificuldades para ir a mercado vender o produto ontem, mesmo com
desconto nos preços. As comercializadoras não querem comprar e os bancos não
aceitam financiar a operação.
O país de Vladimir Putin não é grande do
ponto de vista econômico, mas é um gigante militar. Sua economia pode ser
considerada média, e no médio prazo a Rússia tem muito a perder. Todos esses
investimentos cancelados levarão a desemprego e ao empobrecimento. A Alemanha e
outros países europeus tentarão encontrar outros fornecedores para o seu gás e
seu petróleo. A Rússia poderá estreitar laços com a China, uma potência cada
vez mais forte, mas isso a tornará mais dependente.
A população da Rússia está encolhendo. Hoje
existem 2,5 milhões de russos a menos do que havia em 1993. Até o ano que ele
escolheu para deixar o cargo, 2036, a população vai encolher em mais 5,2
milhões de pessoas, será de 140,6 milhões de habitantes. Essa não era a hora
para mandar homens jovens correr risco de morte. Se é que existe hora boa para
um governante mandar sua população matar e morrer em nome de um delírio
expansionista.
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