O Estado de S. Paulo
A guerra na Ucrânia ressalta para os
militares a importância da condução política
Guerras oferecem excelentes lições sobre
liderança política, algo que os militares brasileiros talvez estejam aprendendo
com a invasão russa da Ucrânia. Na Eceme
(Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), que forma os futuros generais,
um ponto central estudado no presente conflito é a “guerra informacional”, diz
um de seus docentes, o professor Tasso Franchi.
Trata-se de qual lado num conflito manipula melhor as informações ao público. E qual lado no conflito toma as melhores decisões baseado em quais informações, evitando ser levado por desinformação. O mundo da revolução digital acentuou brutalmente a gravidade do problema, mas não alterou a sua natureza.
Como “desinformação” entende-se também subestimar a capacidade de resistência do adversário, ou superestimar a própria força – o noticiário sugere que Vladimir Putin estava desinformado ao iniciar a invasão da Ucrânia. É algo que ainda pode corrigir, embora já esteja pagando um preço altíssimo.
Muito mais importante é a liderança
política, que remete a clássicos como Clausewitz (que por esse motivo continua sendo
lido na Eceme e em academias militares pelo mundo). Guerras e a sua condução
têm de ser entendidas no contexto político e histórico, sujeito ao acaso. Sim,
ao acaso, o que torna consequências às vezes imprevisíveis.
Por razões que ele considera objetivas (mas
seus adversários consideram irracionais), Putin se dedicou a assegurar pela
força bruta um espaço de vital importância estratégica para ele (e de bem menos
importância para seus adversários). Conseguiu até aqui aumentar a própria
dependência estratégica da China – que detém
a capacidade de controlar o conflito sem ser parte direta dele – e devolveu ao
inimigo da aliança militar ocidental um sentido de existência.
Mesmo conseguindo “negar” a Ucrânia ao
adversário, território que Putin já inviabilizou como país por muitos anos
adiante, a “liderança política” do autocrata em Moscou o deixou em situação
mais perigosa e vulnerável do que antes da guerra. Para oficiais-generais
estudando decisões políticas, a invasão da Ucrânia é a mais recente lição de
que prevalecer no campo de batalha (que se antecipa que os russos consigam) não
significa vencer a guerra, nem resolver a questão estratégica.
Há debate fascinante sobre o tamanho da
desinformação (ou visão de mundo equivocada, pois se julgaram “donos da
História”) de sucessivos líderes ocidentais ao lidar com o dilema milenar do
equilíbrio entre potências, e seu tratamento da Rússia. E do tamanho
da desinformação de Putin ao lidar com dados da realidade.
Resta saber o que oficiais-generais
brasileiros acham que é “liderança política” quando olham para o Palácio do
Planalto.
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