Folha de S. Paulo
Teme-se pelas riquezas culturais e se
sobrará alguma coisa quando o pesadelo acabar
"A Funai acabou", disse o fotógrafo Sebastião Salgado ao
Globo. A instituição que hoje usa os mesmos nome, endereços, verbas, aviões e
mordomias não é a mesma que, em seus primeiros 52 anos, fez o que pôde para
proteger os índios. A Funai dos últimos três anos parece querer
exterminá-los. Salgado responsabilizou-a pela contaminação em massa com
Covid dos indígenas korubo, povo do Vale do Javari, no Amazonas, pelos
invasores estimulados pelo governo. E esse é só um dos povos ameaçados.
Outra instituição, a Biblioteca Nacional, está à deriva há muito tempo. Seu ex-presidente nominal, um discípulo de Olavo de Carvalho, foi removido para a Secretaria Especial de Cultura, ex-Ministério da Cultura, este reduzido a humilhante apêndice do Ministério do Turismo, cujo atual titular é o sanfoneiro particular de Bolsonaro. Para dirigir a Biblioteca, indicaram um oficial da reserva da Marinha. A Biblioteca Nacional, uma das dez maiores do mundo, já teve como presidentes em seus 224 anos Raul Pompéia, Celso Cunha, Plínio Doyle, Eduardo Portella e Muniz Sodré. Nenhum deles jamais comandou um navio.
O dito marujo estava encalhado na Fundação
Casa de Rui Barbosa, matriz de estudos fundamentais sobre a história do Brasil
no século 20. A burocrata que comanda a Casa Rui, estranha à pesquisa e à
história, não reconhece em seus funcionários gente que orgulharia qualquer
instituição similar no mundo.
O Iphan foi "ripado"
por Bolsonaro para parar com essa história de proteger o patrimônio histórico e
artístico nacional. O responsável pela Lei Rouanet é um ex-PM. E o astronauta
ex-ministro da Ciência já foi chamado de burro até pelo ministro da Fazenda.
Todas essas instituições, que controlam
valores em milhões, estão nas mãos de arrivistas, amadores e oportunistas.
Teme-se pelas riquezas sob sua guarda e se terá sobrado alguma coisa quando o
Brasil acordar deste pesadelo.
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