Folha de S. Paulo
Russos experimentarão as piores dores das
sanções, mas o resto do mundo também sofrerá
É possível que as sanções econômicas que a
comunidade internacional baixou contra a Rússia surtam efeito. Empobrecer
repentinamente a elite e a classe média de um país é uma receita infalível para
minar a popularidade do governante de plantão. A incógnita é se Putin ainda
depende do apoio de seus súditos para manter-se no poder ou se já criou uma
estrutura sólida o bastante para resistir a pressões internas.
De certo, temos que, se são os russos que experimentarão as piores dores das sanções, o resto do mundo também sofrerá.
Os efeitos mais imediatos se dão sobre os
preços de combustíveis e grãos —e isso num contexto em que a inflação já é
elevada globalmente. O governo brasileiro procura uma fórmula que permita
moderar as altas no diesel, na gasolina e no gás. Penso que a proposta até
faria sentido, se achássemos que o encarecimento do petróleo é transitório. Eu
receio, porém, que esse seja o cenário menos provável. A menos que Putin caia e
as sanções sejam retiradas, o embargo à economia russa deve gerar escassez por
algum tempo. E, aí, tentar evitar os aumentos é como enxugar gelo.
Uma das principais razões por que a
economia de mercado é eficiente é que os preços refletem informações relevantes
sobre a disponibilidade de produtos e as distribuem para milhões de agentes,
que têm liberdade para se posicionar de modo a satisfazer suas necessidades da
melhor forma possível. E a informação essencial, que não deve ser escondida, é
que, com a guerra e as sanções, o petróleo se tornou um bem mais escasso do que
era antes. É com base nela que surgirão soluções, ainda que não indolores.
É o preço alto que faz com que as pessoas
gastem menos combustível e que países e empresas petrolíferas aumentem a
produção. O petróleo caro funciona também como estímulo ao desenvolvimento de
fontes alternativas de energia, do que o mundo depende para mitigar o desastre
climático.
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