Folha de S. Paulo
Legislativo que não cumpre seu papel
colabora com a ruína da democracia
São abundantes as denúncias feitas pela
imprensa sobre o assalto de predadores da
educação ao cofre do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação). É como praga em plantação. Deixa terra arrasada, mas enche o bolso
de pastores trambiqueiros, da escumalha do centrão e de empresários de fachada.
Na esbórnia com dinheiro público, propina é cobrada em ouro e empurram-se jogos de robótica para escolas que não têm água nem internet, onde as aulas são suspensas por causa do calor e a descarga nos banheiros não funciona. O destino dos robôs será ferrugem e poeira.
Apesar da fartura de indícios criminosos,
senadores da oposição têm tido enorme dificuldade para criar a CPI do MEC.
Enfrentam a pressão do governo e da bancada evangélica, fortemente mobilizada
para proteger os cupinchas do presidente, Gilmar dos
Santos e Arilton Moura, e o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro,
todos pastores.
Outra frente de embaraço à CPI tem origem
na letargia do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que repete seu
comportamento quando da CPI da Covid. Na época, Pacheco resistiu o quanto pôde,
mesmo quando o Brasil chegava, então, a 4.000 mortos por dia. Era como se 20
aviões caíssem todos os dias em solo brasileiro sem nenhum sobrevivente! E
Pacheco falava em buscar um "pacto" com o governo.
Agora, diz-se preocupado com o "viés
eleitoral" de uma CPI para investigar falcatruas no MEC. Com modos melífluos
de causídico de província, Pacheco até consegue dar algum verniz de civilidade
à sua atuação no comando do Senado. Não tem os maus bofes de jagunço e a
truculência de um Arthur Lira (PP-AL), por exemplo. Nem por isso deixa de ser
linha auxiliar de Bolsonaro.
A CPI da Covid só foi criada por
determinação do STF. Caso a oposição consiga o número de assinaturas
necessárias agora, o enredo se repetirá? Legislativo que não cumpre seu papel
se rebaixa, age como cúmplice e colabora com a ruína da democracia.
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