Folha de S. Paulo
Carreira do presidente é marcada por
enriquecimento suspeito de mulheres e filhos
Podem xingar Bolsonaro de tudo, desde que
não se esqueçam de "corrupto". Tanto no passado como no presente, a
conduta do nosso mandatário é a mesma: onde Bolsonaro está, lá tem esquema.
O maior golpe de marketing de sua campanha
em 2018 foi mostrar-se como paladino
de valores morais e cruzado anticorrupção.
Toda sua carreira é marcada pela corrupção e enriquecimento suspeito de seus
filhos e mulheres.
O esquema é simples: contrate funcionários
que não fazem nada e fique com uma parte do salário deles, tudo
pago pelos cofres públicos. Até o filho Eduardo teve seu primeiro emprego em
Brasília enquanto cursava Direito e surfava no Rio.
O resultado era expressivo: dinheiro para toda a família. A ex-mulher de Bolsonaro comprou 14 imóveis, cinco deles com dinheiro vivo. Flávio também é adepto dessa modalidade inusual de transação.
Isso tudo era antes do governo. E depois do
governo, temos casos de corrupção? Para dar e vender. A aliança com o centrão
—que na verdade é o grupo do qual Bolsonaro sempre fez parte— não deixou de
mostrar a que veio. Ciro Nogueira na Casa Civil, Arthur Lira na presidência da
Câmara, apadrinhados deles em fundos do governo e estatais, "orçamento
secreto" para completar.
Primeiro, o Meio Ambiente. Que a
destruição, a grilagem e
o crime organizado na Amazônia cresceram no governo Bolsonaro é
amplamente sabido; o termo "narcogarimpo" não entrou no nosso
vocabulário à toa. Surpreendentemente, contudo, parece que tem agente público
ganhando dinheiro nessa anarquia ambiental. Funcionários do Ibama e do
ministério são suspeitos de facilitar
exportação de madeira ilegal.
Depois a Saúde. Graças à CPI da Covid,
foram descobertas negociações fraudulentas
de compra de vacina com propina. Depois da descoberta, um contrato
de R$ 1,6 bilhão de compra da Covaxin pelo governo foi cancelado; eram as doses
mais caras de toda a pandemia. Ainda na Saúde, há também o gasto de R$ 30
milhões em prédios do ministério no Rio de Janeiro.
A Educação deve ser a pasta mais abandonada
deste governo. Rigorosamente nada foi feito para melhorar o ensino de milhões
de crianças e jovens. Engana-se, contudo, quem acha que o ministério ficou
parado: ele se transformou em balcão de propina. O FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação), em específico, virou o
grande irrigador da corrupção nacional.
Laptops superfaturados, construção de
"escolas fake", pedidos de
propina em ouro e até em Bíblias. Um pastor que sequer trabalha
no ministério negocia em seu nome e pede dinheiro para liberar verbas. Segundo
o ex-ministro Milton Ribeiro, quem pediu para prestigiar esses pastores foi o
próprio Bolsonaro.
Outra teta de verbas suspeitas é Codevasf,
estatal que atua na infraestrutura e canaliza a verba de emendas do orçamento
secreto. Uma empreiteira —a Engefort— que usa empresa de
fachada em licitações, se reuniu com o então ministro Rogério
Marinho fora de agenda e, inexplicavelmente, multiplicou seus contratos com a
Codevasf. Deve receber ao todo R$ 620 milhões de dinheiro público. Não importa
a área: é só procurar que você acha.
O PT cometeu um erro estratégico em sua
escalada de corrupção: fortaleceu órgãos de controle, como o Ministério
Público, e a Polícia Federal. Bolsonaro aprendeu com eles e está fazendo o
serviço completo: PGR fielmente em sua mão e tenta
aparelhar a Polícia Federal com amigos. "Ah, mas ele ainda não
chegou perto dos valores de propina do PT". É verdade, ainda não chegou. É
só dar mais um mandato que ele dobra essa meta.
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