O Estado de S. Paulo
Análise de 316 publicações da família
presidencial exibe o caráter de sua ação eleitoral
Jair Bolsonaro subiu
ao palco. Afastou o tradutor de libras para ser visto. Era domingo, 27 de
março. No evento do PL, definiu a eleição deste ano como a “luta do bem contra
o mal”. Naquele dia, sua conta no Twitter exibia uma sequência de três tuítes
sobre realizações no Nordeste. Na mesma rede, o filho Carlos exaltava
o governo, Flávio julgava
ser dia de usar verde e amarelo e Eduardo negava
acusações de campanha antecipada.
Quem sai aos seus não degenera? A análise das publicações no Twitter dos Bolsonaros entre aquele 27 e o 9 de abril permite ir além da obviedade de o fruto não cair longe da árvore. Ela exibe o caráter da ação da família presidencial nas duas primeiras semanas da pré-campanha eleitoral. São 316 tuítes, retuítes e sequências de tuítes. Azuis e vermelhos têm o mesmo espaço: a promoção do governo e aliados soma 127 publicações e o ataque a inimigos, 138.
Se política é arte, ali está a dos Bolsonaros. A luta do bem contra o mal se liga à visão do que é a liberdade e sua relação com a política. Políticos influenciados por um certo hobbesianismo só concebem a liberdade como libertação de todo medo. É por pensar que a liberdade como princípio se manifesta na política só na presença da segurança que Bolsonaro associa a vitória de qualquer adversário à perda da liberdade e ao mal. Sabe-se ainda que o princípio por trás de uma ação só se torna visível quando ela é executada. E não perde o vigor na execução da ação. Assim são a honra, a glória, o medo e o ódio.
No Twitter, o maior alvo da família é Luiz Inácio Lula da Silva,
com 69 publicações. O total de críticas ao petista e sua aliança com Geraldo Alckmin supera
até o de momentos usados para divulgar o governo – 60 ao todo. Lula recebe o
dobro de açoites desferidos na terceira via. O látego dos Bolsonaros desceu no
lombo de Sérgio Moro e
de João Doria 34
vezes, quase o mesmo para a imprensa e o Judiciário juntos (35). E cria uma
curiosa forma: somados, os demais alvos têm as mesmas 69 críticas de Lula.
Se alguém ainda tem dúvida sobre a estratégia da família, basta olhar a conta do pai. Foram 35 publicações. Em busca da reeleição, defendeu seu governo 19 vezes e se autopromoveu 10. Criticou a imprensa em duas ocasiões e em duas atacou um adversário único: Lula e a esquerda em razão da aliança com Alckmin e para acusá-la de saques. No Twitter de Bolsonaro, a terceira via não existe. E uma única pessoa é elogiada: Tarcísio Freitas, seu candidato ao governo paulista. É fácil observar quais os princípios e as prioridades do presidente. É assim que se fabrica uma imagem para se condicionar a eleição.
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