O Globo
O coelhinho da Páscoa chegou mais cedo a
Brasília. Às vésperas do feriado, o governo montou uma força-tarefa para melar
a investigação do escândalo no MEC. Tocados pelo espírito cristão, três
senadores retiraram suas assinaturas pela criação de uma CPI. A quarta inovou:
disse que o jamegão não era dela.
O caso de Rose de Freitas é o mais curioso.
Na semana passada, a emedebista foi recebida por dois ministros de Jair
Bolsonaro. Na quarta-feira, esteve com Ciro Nogueira e Célio Faria Júnior. Na
quinta, voltou a se encontrar com o chefe da Secretaria de Governo.
A última reunião no Planalto terminou às
13h20. Quatro horas depois, Rose subiu à tribuna do Senado e disse nunca ter
apoiado a CPI. Ela alegou ter sido vítima de fraude, embora sua assinatura
eletrônica apareça em ofício enviado à Secretaria-Geral da Mesa.
Como o MDB não é para amadores, Rose marcou
presença no jantar oferecido ao ex-presidente Lula na segunda-feira. Ontem ela
recuperou o furor investigatório e apoiou a criação de uma CPI sobre obras de
gestões petistas. O objetivo da manobra é óbvio: chantagear a oposição e
blindar a quadrilha do MEC.
O senador Weverton Rocha, do PDT, alegou motivos religiosos para desistir da CPI original. Disse que desejava evitar a “criminalização” dos evangélicos. O pedetista conhece bem os personagens do escândalo. Em março, gravou vídeo ao lado do pastor Gilmar Santos, acusado de cobrar propina para acelerar a liberação de verbas destinadas a escolas e creches.
Oriovisto Guimarães, do Podemos, foi eleito
na onda da Lava-Jato. Agora ajuda a abafar uma investigação de corrupção e
tráfico de influência. No sábado, ele alegou que a CPI serviria de “palanque
eleitoral”. Para evitar o contratempo, decidiu a ajudar o governo a enterrar as
denúncias.
O terceiro a retirar a assinatura foi
Styvenson Valentim, também do Podemos. O senador é um personagem típico da
chamada nova política. Capitão da PM, ganhou fama ao caçar motoristas
embriagados nas ruas de Natal. O porte físico lhe rendeu o apelido de Robocop
da Lei Seca e o mandato de oito anos em Brasília.
Na quinta passada, quando ainda apoiava a
criação da CPI, Styvenson disse não estar entre os “privilegiados” que recebem
verbas do governo. “Estou no limbo aqui, boiando, sem recurso nenhum”,
choramingou. No dia seguinte, deu-se o milagre: o Planalto liberou R$ 287 mil
para uma emenda do Robocop.
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