Folha de S. Paulo
Militares aceitam ser arma do latrocínio que
Bolsonaro comete diariamente?
Daniel Silveira é o novo
vice-presidente da comissão de Segurança da Câmara. Ganhou o cargo como
recompensa porque ameaçou de morte os ministros do STF, foi condenado
à cadeia e perdoado
pelo presidente da República.
O que entusiasmou seus colegas de
Parlamento foi o precedente jurídico que o caso Silveira estabeleceu: de agora
em diante, está decidido que presidentes
podem soltar aliados condenados pela Justiça.
O STF não reagiu à provocação do presidente da República porque teme que as Forças Armadas deem um golpe de Estado em apoio a Bolsonaro. Ninguém tem medo do Jair. O medo é do Exército. Como se viu no último 7 de Setembro, quando o Exército não aparece para brigar por ele, Jair se senta no chuveiro e chora.
Ou seja: as Forças Armadas garantiram que,
daqui em diante, presidentes possam soltar deputados condenados pela Justiça.
Bonito, isso.
É coisa muito comum nas democracias
mais consolidadas. Na Suíça, por exemplo, sempre que um psicopata quer
matar ministros da Suprema
Corte, os militares invadem o Parlamento e colocam ele na presidência de
alguma comissão.
No Canadá, mesma coisa, não passa semana
sem que alguém que quer agredir a Suprema Corte seja libertado da cadeia
pelos chefes
das Forças Armadas. O hino do Exército alemão começa com "Fascista do
bumbum sarado/Fomos na cana soltar/Pra que no orçamento secreto/O centrão nos
deixe entrar". A métrica se perde um pouco na tradução.
Falando sério, é uma vergonha que as Forças
Armadas aceitem ser a arma que Bolsonaro aponta para o Brasil para cometer seus
crimes.
Acabar com a crise
institucional seria facílimo. Bastaria que os chefes das Forças
Armadas publicassem o seguinte comunicado: "Caro Jair: se você tentar um
golpe, a gente vai te matar. Forte Abraço, Forças Armadas Brasileiras".
Mas não. No governo
Bolsonaro, pela primeira vez em nossa história, os chefes das Forças
Armadas renunciaram coletivamente em protesto contra o presidente da República.
Segundo o ex-ministro da defesa Raul Jungmann,
Bolsonaro havia ordenado à Força Aérea que sobrevoasse o STF para quebrar os
vidros do prédio.
Se os próprios oficiais que renunciaram
tivessem contado isso ao público, Bolsonaro teria sofrido impeachment. Por que
não contaram? Imagino que os militares não sejam todos golpistas. Se fossem, o
7 de Setembro de 2021 teria dado certo. Não deu. Nenhum militar apareceu. Isso
é excelente.
Mas também é óbvio que há uma facção de
desertores nas Forças Armadas que apoia o golpe de Bolsonaro, ou, ao menos, tem
interesse em se deixar usar como ameaça sempre que Bolsonaro comete um crime.
Nesse caso, o Brasil, e as próprias tropas,
precisam saber de que lado da briga os
militares bolsonaristas estão entrando.
Bolsonaro matou Maracanãs inteiros durante
a pandemia, matou a Lava Jato,
montou o orçamento
secreto, fez a festa do centrão e agora consagrou o perdão presidencial a
políticos condenados, sempre sacudindo os militares como ameaça na frente das
instituições.
Os militares brasileiros aceitam ser a arma
do latrocínio que Bolsonaro comete diariamente contra o Brasil? Aceitam ser
fiadores do orçamento secreto? Esse é o papel que Bolsonaro lhes deu. Se
continuar bolsonarista, o Exército logo se chamará Exércentrão.
*Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
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