Em economia, há menos diferença do que se
imagina em temas da economia? Ou é o ambiente político supercompetitivo que
exige concessões?
Será sancionado nos próximos dias pelo
presidente o Auxílio Brasil com valor mínimo de R$ 400, permanentemente. A
medida foi aprovada pelo Congresso com apoio do governo, tendo como relator na
Câmara o próprio ministro da Cidadania. O valor médio dos benefícios seria mais
do que o dobro do que tinha o Bolsa Família em 2010, já descontando a inflação.
Só Nixon poderia ter ido à China.
Até o ano passado, o benefício se chamava
Bolsa Família – um carro-chefe dos governos do PT. Bolsonaro era crítico
ardoroso do programa, que via como uma forma de compra de votos pelo partido,
um desincentivo ao trabalho dos beneficiários e um estímulo à fecundidade de
nordestinas. O plot
twist é que, sob sua batuta, o orçamento do Bolsa Família
agora seria triplicado de forma permanente – ou, pelo menos, para os próximos
anos (salvo cortes ou uma queda significativa da pobreza).
Como isso aconteceu? A expressão “Nixon vai à China”, sobre a viagem do presidente republicano à ditadura comunista no auge da Guerra Fria, alude a momentos como este. Um presidente de esquerda não encontraria apoio para fazer o gesto, que despertaria a ira da oposição de direita. Só um presidente conservador poderia ter essa iniciativa, porque sua oposição é ideologicamente simpática à sua decisão, e sua base – ainda que não concorde – não há de sabotá-lo.
Explica-se, assim, o aparente paradoxo de
mudanças à esquerda acontecerem em governos de direita (ou vice-versa). No caso
do Auxílio Brasil, basta lembrar que em 2015 a presidente Dilma Rousseff vetou
na LDO um texto que permitiria aumentos para o Bolsa Família – em um momento em
que o desemprego, a inflação e a pobreza subiam. O orçamento real do programa
acabou reduzido naquele período.
Chama atenção ainda uma nova alta da
tributação sobre o lucro dos bancos, proposta pelo atual governo no mês
passado. A alíquota da CSLL para as instituições financeiras terminaria este
governo liberal sendo 40% maior do que era em governos de esquerda. Ano
passado, foi a vez da fracassada tributação de lucros e dividendos. A proposta
frustrou a Faria Lima e foi ao encontro de uma bandeira da oposição.
Já a presidente Dilma ao fim de seu governo
propôs um teto de gastos, preparava uma reforma da Previdência e anunciara uma
reforma trabalhista.
Por trás da feroz polarização, há menos
diferença do que se imagina em temas da economia? Ou é o ambiente político
supercompetitivo que exige concessões, turvando as fronteiras das agendas de
esquerda e de direita?
*Doutor em economia
Nenhum comentário:
Postar um comentário