terça-feira, 10 de maio de 2022

Alvaro Costa e Silva: O apogeu da mamata

Folha de S. Paulo

Trair e conspirar contra a democracia tem suas recompensas

Como já havia feito com a Lei Paulo Gustavo, Bolsonaro vetou a Lei Aldir Blanc, projeto que criaria uma política permanente para o setor cultural, com repasses de verbas da União para estados e municípios durante cinco anos. A Lei Orlando Brito, que proporcionaria a isenção de impostos na importação de equipamentos para fotógrafos e cinegrafistas, também foi vetada. Surpresa zero. Um dos conceitos de propaganda do fascismo canarinho é promover o ódio à cultura. O argumento é aquele manjado: todo artista é mamateiro.

Na realidade, o jamegão presidencial funciona como reserva de mercado, deixando o campo livre para os mamateiros de estimação. Ai, a mamata! Orgulho da produção nacional, tão perseguida e, no entanto, tão vitoriosa sob os auspícios do governo.

Mesmo enfrentando a garimpagem e a grilagem em terras indígenas, o contrabando de ouro e madeira, os fabricantes de cloroquina durante a pandemia, as empresas multinacionais de armamento patrocinadas pela Secretaria de Cultura, a mamata conseguiu se destacar entre as atividades que mais prosperaram no Brasil dos últimos três anos e meio.

Os exemplos de sucesso vêm de cima. Vide o caso Renan Bolsonaro. Com os três irmãos mais velhos investigados por falcatruas, ele manteve a tradição e entrou na mira da PF, por suspeita de tráfico de influência e lavagem de dinheiro. A mamata é um negócio familiar, que passa de pai para filho. E não para: o presidente gastou R$ 4,2 milhões no cartão corporativo em 35 dias.

A grande família das Forças Armadas não poderia desperdiçar a chance. Torrou milhões na operação Verde Brasil, e a Amazônia continua sendo destruída. Usou verbas do combate à Covid com picanha, camarão e uísque. Inacreditavelmente, não sabe explicar a compra de milhares de comprimidos de genéricos do Viagra. Trair e conspirar contra as instituições, tramando um golpe militar, tem lá suas recompensas.

 

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